Brasil começa a crer que sofreu golpe de Estado

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Apesar das mobilizações tardias da esquerda contra o golpe parlamentar de 2016, mesmo o esquerdista mais convicto terá que reconhecer que a denúncia de que um golpe ocorreu no país no ano passado não convenceu de verdade a imensa maioria dos brasileiros.

Isso ocorreu por várias razões. A principal é a de que a maioria começou a ver a economia fazer água e acreditou que, tirando Dilma do cargo, teria de volta o “bem-bom” do tempo de Lula, ou seja, a vida boa que fez essa maioria votar duas vezes nele mesmo e duas vezes naquela que ele indicou.

Não havia como esse golpe dar certo. Não foi dado para devolver aos brasileiros o “Welfare State” da era Lula, foi dado para retirá-lo.

Foi quase de enlouquecer ter visto o povo brasileiro apoiando a derrubada de um governo que era a única coisa que defendia esse mesmo povo da sanha saqueadora dos tucanos e dos peemedebês.

Os brasileiros conscientes sofremos essa tortura. Pela pátria.

A conspirata tucano-peemedebê, porém, ocorreu na antessala do Poder Executivo Federal e foi exibida na mídia em full HD e Dolby Digital. Só faltou o 3D, mas esse ocorreu nas ruas com manifestações financiadas por partidos de direita e “investidores” estrangeiros desde 2013…

Com a imprescindível ajuda da esquerda que a direita ama amar, lógico.

Mas eu repito: não poderia dar certo. Não tinha como dar certo. O povo não queria ver banqueiros sorrindo ante cortes no Bolsa Família ou capitão da indústria paulista tendo orgasmos com a retirada de direitos trabalhistas, o povo queria de volta o que Lula lhe deu.

Apesar da ingenuidade popular, qualquer ser vivo tem instinto de sobrevivência e vai acabar correndo para onde o instinto o levar. E o instinto faz esse povo lembrar do velhinho de barba branca que durante quase uma década fez a vida de todos melhorar como nunca ocorrera.

O grande erro dos mentores intelectuais da Lava Jato foi atacar esse velhinho. Se o tivessem deixado em paz, dificilmente ele seria candidato de novo; não iria querer correr o risco de manchar uma biografia repleta de êxitos e coroada por um governo que, após 8 anos, terminou com 80% de aprovação.

Mas eles temiam que Dilma terminasse seu governo com êxito igual ou parecido e, assim, decidiram sabotá-la e derrubá-la, mas tomando o cuidado de impedir que seu poderoso padrinho político, instado pelo golpe, voltasse a disputar o Poder que haviam tomado.

Contrapondo o símbolo de um tempo de glórias e bem-estar para todos (Lula) com Sergio Moro, a Lava Jato e Temer, o resultado tampouco poderia ser outro: os contrapostos a Lula começam a se tornar o símbolo de um tempo de sofrimento, de humilhações, de privações para QUASE todos.

O juiz Sergio Moro não é mais tão-somente o símbolo da Lava Jato. Ele é, também, para metade da população, o símbolo de um tempo em que todo bem-estar brindado pelo velhinho de barbas brancas se tornou mal-estar, desesperança, medo e sofrimento.

Moro também simboliza outra coisa: simboliza o processo que tirou Dilma do poder. Mas isso é por ignorância de grande parte da população, que pensa que a ex-presidente foi derrubada por “roubar”, quando, na verdade, foi derrubada por uma farsa.

Faça um teste: pergunte ao povão por que Dilma foi “tirada”. Vai se surpreender com a resposta. Dirão que foi por “roubalheira”.

Aí é que entra o juiz-promotor Sergio Moro, com sua aura vingadora ocupando o lugar da imparcialidade que deveria caracterizar o posto de juiz que todos idealizamos. Ao vermos suas acusações sem provas contra Lula, começamos a pensar se Dilma não teria sido injustiçada.

Ao mesmo tempo, as pessoas veem que todas as medidas ruins para suas vidas que têm sido tomadas, como fim de programas sociais, retirada de direitos trabalhistas, permissão para terceirizar todo mundo, sobrevieram em lugar da devolução do “bem-bom” da era Lula.

Então foi para isso que tiraram Dilma? É o que as pessoas começam a se perguntar.

Em seguida, começam a elucubrar: será que não tiraram Dilma para nos tirarem depois tudo que estão tirando?

Por fim, Moro colabora com o cair de ficha dos brasileiros ao condenar Lula a morrer na cadeia sem explicar qual é a prova que tem contra ele além da palavra de gente que, se não o acusasse, ficaria na cadeia no lugar dele.

Agora é só esperar Temer e os golpistas – ou quem os golpistas colocarem no lugar dele – continuarem a ferrar o povo do jeito que estão ferrando, com mais cortes, com mais desmonte das proteções requeríveis aos trabalhadores, com mais privilégio a grupos econômicos fortes em detrimento de grupos sociais empobrecidos.

Termino este post como sempre termino os textos que tratam do poder da verdade, lembrando que ela é uma força da natureza como o vento ou a chuva e que tentar contê-la é como tentar conter água entre as mãos em concha: a verdade escapa por entre os dedos.

 

Ombudsman revela por que a mídia tenta parecer imparcial

 

A ombudsman na Folha publicou em sua coluna do último domingo a razão de a mídia (Globo, etc) estar tentando parecer imparcial. Confira no Canal do Blog da Cidadania no YouTube (vídeo abaixo).