Doria: Pode bater o carro que te socorremos rapidinho

Reportagem

Esta matéria está sendo publicada em um momento muito triste para uma cidade governada por um prefeito que pode vir a ser indicado candidato do PSDB a presidente da República na eleição do ano que vem: João Dória. Nesse momento preocupante, acaba de ocorrer a segunda morte após o aumento do limite de velocidade nas marginais da capital paulista.

Segundo o jornal Agora, a marginal Tietê registrou ontem à noite a segunda morte em acidentes de trânsito após a gestão João Doria (PSDB) aumentar os limites de velocidade das marginais.

Desde 25 de janeiro, as velocidades variam de 50 km/h a 90 km/h, de acordo com a pista. Os limites haviam sido reduzidos pela gestão Fernando Haddad (PT) em julho de 2015.

Folha de São Paulo, por sua vez, deu conta de que o “PSDB já considera Doria para Presidência em 2018”. A seguir, aparece pesquisa de um instituto com longo histórico de erros, de um tal instituto Paraná, trazendo o dado improvável de que o prefeito de São Paulo, João Doria, seria “conhecido por 71% dos brasileiros”.

Enfim, o fato é que o desgaste enfrentado por quadros tradicionais do PSDB levou a cúpula do partido a ponderar com seriedade uma discussão que, antes, estava restrita a cochichos nos bastidores: a possibilidade de o prefeito de São Paulo, João Doria, se firmar como um nome competitivo para as eleições presidenciais de 2018.

Parlamentares e dirigentes do PSDB ouvidos pela reportagem admitem que o assunto saiu da seara das fofocas.

A avaliação é que a crise política tende a macular sobremaneira a classe política tradicional que levará o eleitor a buscar, em 2018, fórmula parecida à que fez sucesso em algumas das principais capitais do país no ano passado, nas eleições municipais.

Mais: acham que a pressão por avaliar as chances de Doria tende a crescer dentro da própria militância, com a aproximação do pleito.

Em conversas reservadas, tucanos graduados argumentam que, se houvesse em 2018 um páreo montado apenas por políticos tradicionais, um entre os três nomes que se colocam hoje ao Planalto na sigla –Aécio Neves (MG), José Serra (SP) e Geraldo Alckmin (SP)– teria chances. Mas com a indicação de que “outsiders” se arriscarão na corrida à Presidência, cresce a sensação de que Doria pode ser representar uma opção viável.

A Lava Jato é vista como o principal fator de instabilidade para os nomes mais tradicionais da legenda. Aécio, Serra e Alckmin já foram citados em depoimentos de delatores.

O prefeito paulistano mantém o discurso de que seu candidato ao Planalto é Alckmin. Dá sinais concretos, porém, de que sabe que o vento pode migrar com força para a sua direção.

Sua equipe de comunicação passou a monitorar menções a uma eventual candidatura à Presidência não só na imprensa, mas também na internet. Em outra frente, cada referência a Doria em pesquisas de opinião, ou questionamentos sobre a disposição de concorrer ao Planalto é alvo de avaliação interna. Os resultados são, depois, compartilhados em grupos de secretários e outros integrantes do primeiro escalão da administração paulistana.

O prefeito, por sua vez, tem mantido um ritmo frenético de aparições e de divulgação do mandato nas redes sociais. Numa última invenção, estreou um “programa” na internet no qual conversa com personagens como os músicos Lobão e Roger, este último da banda Ultraje a Rigor. Ambos os convidados têm base ampla de seguidores nas redes sociais e falam grosso contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contra o PT. Lula, por sinal, é o nome mais competitivo da sigla para o Planalto – e alvo preferencial de Doria.

Em janeiro, em um evento da prefeitura, Doria disse que o petista era “o maior cara de pau” do Brasil. Recentemente, no Carnaval, hostilizado por um folião que o chamou de “burguês de merda”, rebateu: “Filho do Lula!”.

Como governa João Doria

Já estão aparecendo os primeiros resultados de uma administração fake cujo único objetivo é contentar essa minúscula classe média alta das manifestações verde-amarelas e das páginas “revoltadas” do Facebook, algumas centenas de milhares entre mais de uma dezena de milhões de paulistanos. Gente que não pede serviços públicos, mas, apenas, exclusão social de pobres, negros, nordestinos e um forte higienismo nos bairros “nobres”.

Acredite quem quiser: a gestão João Doria está se recusando a divulgar estatísticas sobre acidentes de trânsito referentes a 2016, impedindo, assim, a comparação dos acidentes nas marginais na sua gestão e na gestão anterior.

No entanto, há outra forma de conseguir os dados: a média mensal de acidentes com vítimas nas duas marginais no ano passado era bem menor que os 102 da gestão Doria. Com Haddad, no mesmo mês de 2016 ocorreram 64 acidentes, ainda sob o limite de velocidade mais baixo.

Eis a explicação do homem que cogitam eleger presidente da República no ano que vem:

“Não vou governar olhando pelo retrovisor. No passado, quando o acidente era só entre dois carros, pode ser que as pessoas fossem embora sem registrar”.

O prefeito paulistano também exaltou a rapidez da equipe de técnicos em atender as ocorrências. “Em, no máximo, dez minutos estamos atendendo as chamadas”. Ou seja: a gente aumenta o limite de velocidade e vocês podem bater à vontade que os socorreremos com rapidez. Dá até vontade de enfiar o carro no muro pra ser tão bem atendido, não?