Acusação a Dilma no Senado reconhece falta de crime de responsabilidade

Análise

acusação 1

 

Discurso da senadora Gleisi Hoffmann proferido nesta terça-feira no Senado logo após as sustentações orais de Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr. encerra o que talvez seja a principal prova de que as acusações contra Dilma Rousseff não passam de uma tremenda trapaça.

Após a sustentação dos dois juristas, Gleisi se dirigiu ao presidente do processo, ministro Ricardo Lewandowski, para “fazer uma reclamação” sobre os co-autores do pedido de impeachment. A conduta deles, porém, serve à defesa por, como tantas outras falas de senadores, deixar ver que, na falta de crime de responsabilidade, Dilma está sofrendo acusações que não guardam relação com o processo que pretende tirar seu mandato.

Palavras de Gleisi:

— O que a acusação fez aqui, hoje, na tribuna do Senado não foi registros técnicos [sic], não foi um debate jurídico, foi um debate político (…), mas para fazer debate político é necessário que [os autores do impeachment de Dilma] se submetam ao voto popular e venham para esta Casa. Se aqui vem como advogado, aqui tem que trazer questões técnicas.

Gleisi ainda reproduziu trecho da fala do co-autor do impeachment Miguel Reale Jr. em que afirma que o processo foi “gestado na avenida Paulista” ou na “avenida Nossa Senhora de Copacabana”.

Assista à ponderação de Gleisi.

Vale lembrar que a acusação de Gleisi a Janaína de que esta foi paga para produzir o parecer que redundou no processo de impeachment contra Dilma está sendo questionada pela mídia antipetista, mas, para quem esqueceu, aí vai vídeo em que a própria Janaína reconhece que seu parecer foi comprado pelo PSDB por 45 mil reais.

 

Continuando na questão da ausência de sustentação de acusadores de Dilma sobre a causa alegada para o impeachment, matéria do portal G1 corrobora a tese de que a acusação central do processo não passa de um pretexto para derrubar a presidente.

Confira a fala de Reale jr que mostra como a questão central do impeachment nem está sendo discutida, em benefício de uma discurseira política que, como bem disse Gleisi, não deveria estar em um processo de impeachment, mas em uma campanha eleitoral.

 

Contudo, talvez a fala que mais corrobora a tese de Gleisi Hoffmann seja a de Aécio Neves ao inquirir Dilma Rousseff na última segunda-feira. Em cerca de 5 minutos de discurso, não citou uma única vez os pretextos usados para desencadear o processo de impeachment.

 

Aécio se restringiu a questões que, como bem disse Gleisi, caberiam em uma campanha eleitoral, mas que não guardam a menor relação com o pedido de impeachment, que alude a “crime contra a ordem tributária” para convertê-lo em “crime de responsabilidade”.

Na verdade, porém, nem chega a ser justo cobrar dos senadores que entoem uma inquirição atinente à causa alegada para o impeachment se nem os autores do processo, Janaína e Reale Jr., conseguiram usar o pretexto de forma eficiente em suas falas na sessão derradeira do julgamento de Dilma.