Estatal norueguesa agarrou correndo petróleo que golpistas jogaram fora

Reportagem

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Não vá falar para os “atrasados” noruegueses sobre privatização ou regime de concessão de empresas e campos de petróleo, respectivamente. Vão mandá-lo catar coquinho, porque consideram o petróleo um negócio altamente estratégico e que deve ficar sob controle do Estado, e esse conceito é cada vez mais difundido mundo afora.

Antes de prosseguir, porém, vale explicar de que nação estamos falando quando falamos da Noruega. Pelo 12º ano consecutivo, só deu ela: no fim do ano passado, foi eleita pela ONU, novamente, como o melhor pais do mundo para se viver. Segundo Jens Wandel, diretor do Programa de Desenvolvimento da ONU, o sucesso do país consiste em combinar o crescimento de renda com um elevado nível de igualdade.

“Ao longo do tempo, a Noruega conseguiu aumentar sua renda e, ao mesmo tempo, garantir que os rendimentos sejam distribuídos de modo uniforme”, diz Wandel.

Pelo que dizem os basbaques hipnotizados pela mídia e pelos políticos privatistas que tomaram o poder de assalto, porém, os noruegueses são “atrasados” por manterem o petróleo sob controle estatal.

Com direitos trabalhistas rígidos e ampla rede de proteção social aos cidadãos, os noruegueses confrontam os picaretas que tomaram o poder no Brasil e que afirmam que ter muito petróleo, hoje, virou quase uma maldição, e que quanto mais precárias as condições de trabalho e mais ralos forem os programas sociais, melhor.

Privatizar, privatizar e privatizar é o que pregam os privatistas ressuscitados pela crise econômica forjada pelo golpismo.

Na semana passada, os golpistas conseguiram entregar aos “atrasados” e “desinformados” noruegueses um campo de petróleo que especialistas e jornalistas do setor petrolífero consideram que valia quase o triplo do preço pelo qual foi doado para a estatal de petróleo do melhor país do mundo para se viver, a Noruega.

O campo de Carcará foi vendido para a empresa estatal de petróleo norueguesa batizada com o sugestivo nome de Statoil, uma das maiores do mundo. Segundo vários especialistas, o negócio de 8,5 bilhões de dólares poderia ter sido fechado por 22 bilhões, se respeitado o potencial do campo que foi vendido.

A mídia corporativa tradicional tratou de forma diferente o caso, limitando-se a registrar o negócio. Mas há anos vem defendendo a privatização da Petrobrás e a entrega dos campos do pré-sal a petroleiras estrangeiras sob regime de concessão, ou seja, por um regime em que a empresa que explora o campo petrolífero fica com tudo que encontrar e paga ao Estado apenas os impostos, enquanto que nos governos petistas o regime era de partilha, ou seja, tudo que a empresa exploradora encontrasse seria do Estado e ela receberia apenas uma remuneração pela prestação de serviço.

O governo Temer está seguindo a pregação midiática e a prática da direita quando governava o país, até 2002. Vem pregando a privatização de campos de petróleo e quem sabe até da própria Petrobras. E vendendo a teoria de que petróleo é um ativo que irá perder valor.

A Petrobras, no entanto, vendeu o campo de Carcará para a norueguesa Statoil e pretende ampliar sua parceria com essa empresa, disse a diretora de exploração e produção da estatal brasileira,  Solange Guedes. “Temos um memorando de entendimento que começa a ser negociado agora.” Segundo ela, há uma série de ações em potencial para novos acordos, considerando que os negócios das companhias são complementares.

De acordo com Solange, essa parceria com a Statoil sempre foi uma ambição. “A Statoil é reconhecida mundialmente como uma empresa competente na gestão de ativos maduros”, disse ela. Segundo a diretora, a Petrobras vai direcionar as discussões para que possam trabalhar conjuntamente, buscando “alavancar valores em ativos maduros existentes”.

É uma contradição da administração atual da Petrobrás, que está adotando um caminho diametralmente diferente do adotado pela Statoil, pois o sistema norueguês prevê forte ação estatal no que diz respeito ao petróleo.

No modelo norueguês, não há leilão nem licitação para decidir que companhias petrolíferas vão extrair o óleo de sua costa marítima. A última palavra é do governo.

Criado em 2001 pelo Partido Trabalhista, o modelo norueguês estipula que as empresas interessadas devem apresentar suas propostas para exploração de determinado campo ao Diretório de Petróleo da Noruega.

Órgão similar à ANP (Agência Nacional de Petróleo), mas não independente e vinculado ao Ministério do Petróleo e Energia. Cabe a esse diretório analisar tecnicamente as propostas. O passo seguinte é informar aos ministros de Finanças e do Petróleo as empresas que considera mais experientes, com capacidade financeira e tecnologia para ganhar o direito da exploração.

Com base nesses estudos do diretório, o governo faz a escolha. Inclusive se outra estatal norueguesa, a Petoro, será ou não sócia daquele campo. Decisão sempre é tomada de acordo com o potencial da reserva em disputa pelas empresas privadas. Os noruegueses não se aferram tanto a modelos, mas a conjunturas para cada caso, o que soa muito mais lógico.

Na Noruega, a Petoro, 100% controlada pelo governo, tem participações que vão de 5% a 65% em vários campos de petróleo na plataforma continental. O governo pode também decidir que a sua empresa ficará de fora de certas áreas. Nesse caso, o Estado deixa de ter participação direta no negócio, não lucrando com o faturamento do consórcio, mas recebe impostos pagos pelas petrolíferas – na casa dos 78%. Tributos cobrados de todas as empresas do setor.

Já a Petoro, a estatal pura, é isenta. Ela funciona como administradora da riqueza do petróleo. Não é, porém, operadora, não comanda plataformas. Isso fica por conta de uma das empresas que participa com ela da exploração do campo.

Além da Petoro, o governo também controla a Statoil, a primeira estatal norueguesa no setor, da qual possui 62,5% das ações. É a Petrobras norueguesa, que opera diretamente os campos, tem ações em Bolsa e investimentos em outros países, o que a sua irmã puramente estatal não pode fazer.

Criada em 1971 também pelo Partido Trabalhista, legenda de linha parecida com a do PT, a Statoil surgiu logo depois das descobertas dos megacampos de petróleo. Até então, o setor privado era quem se arriscava no negócio de encontrar óleo na costa do país.

Ao longo dos anos, tornou-se uma empresa poderosa com as descobertas das grandes reservas de óleo, que fizeram da Noruega o terceiro maior exportador mundial de petróleo e o quinto produtor.

Enquanto no Brasil a mídia e os novos donos do poder pregam que petróleo não vale mais nada e que é bom vendê-lo por qualquer preço porque em breve ninguém mais vai querer, amparam-se na baixa conjuntural do preço da commodity e nos prejuízos que quedas do preço do petróleo causam às petrolíferas de toda parte para “provar” esse ponto de vista.

Esse é um golpe, um conto do vigário. No gráfico abaixo o leitor pode verificar que preço do petróleo sempre oscilou com força, para cima e para baixo.

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A baixa atual nem é das maiores. O ciclo de valorização do petróleo virá, e quando vier, se os golpistas tiverem conseguido jogar o pré-sal no lixo, perderemos oportunidade que poderia educar uma geração com ensino de primeiro mundo bancado pelas receitas do petróleo.

É óbvio que a Petrobrás está endividada. A investigação de casos de corrupção que sempre existiram na empresa transformou-se em um show político destinado a derrubar o governo Dilma e a empresa Além disso, há os problemas gerados pela baixa do preço do petróleo e pela necessidade de investir na exploração hoje para colher os frutos amanhã.

Mas que ninguém tenha dúvida de que daqui a algum tempo o preço do petróleo voltará a subir. E se o golpe contra Dilma vingar, daqui a algumas semanas Temer irá torrar todo esse patrimônio público a preço de banana e deixará a Petrobrás sem dívida, sim, mas, também, sem patrimônio.

Em uma metáfora rápida, é como se você desse uma entrada de 300 mil reais em um imóvel de um milhão e, por ter dificuldade de pagar as parcelas, resolvesse entregar o negócio para algum espertalhão que lhe daria 30 mil e arcaria com o financiamento. O detalhe é que, apesar da dificuldade, seria possível pagar o imóvel, mas com a saída do negócio o prejuízo foi materializado e tornado irreversível.

As mudanças radicais que estão para ser feitas na Petrobras vão na contramão do que ocorre no resto do mundo no setor do petróleo. Cada vez mais as nações adotam empresas estatais para explorar o petróleo que têm e impõem regimes de partilha como os adotados pela Petrobrás antes da chegada dos golpistas ao poder.

Por trás do golpe contra Dilma Rousseff está o maior crime de lesa-pátria da história deste país: roubar o pré-sal e vendê-lo a preço vil – se possível, junto com a Petrobrás – a fim de que alguns grupos políticos consigam propinas gigantescas que serão pagas pelos felizes compradores do saldão petrolífero que o governo de facto de Michel Temer já começa a levar a cabo.