Impeachment de Dilma não será aceito como o de Collor

Análise

golpe capa

 

O consórcio golpista aposta que, consumado golpe de Estado escancarado, porém travestido de rito legal, o país irá digerir rapidamente a nova ordem. A aposta é que movimentos sociais, sindicatos, artistas, intelectuais, parlamentares e partidos, bem como os setores da comunidade internacional que, como os primeiros, também rejeitam o golpe, irão se submeter.

Vale ressaltar que este texto está sendo escrito mais de 24 horas antes da votação na Câmara dos Deputados que pode – ou não – cassar o voto de 54 milhões de brasileiros sob uma justificativa qualquer, inventada para dar o golpe.

Ninguém mais nega que as “pedaladas fiscais” são insuficientes para impedir a presidente da República simplesmente porque esse tipo de manobra contábil foi usado pelos antecessores de Dilma e, no exato momento em que este texto está sendo escrito, continua sendo usado por incontáveis prefeitos e governadores pelo Brasil afora. Basta ler a imprensa golpista para constatar isso.

O reconhecimento de que não há justificativa legal para derrubarem Dilma aparece em todos os órgãos de imprensa comprometidos com o golpe. O que editoriais, colunas e artigos dizem, de forma escancarada, é que o impeachment de um presidente não precisa ter causa criminosa, bastando, apenas, que o mandatário tenha perdido apoio político.

Para simplificar, isso é mentira. A lei 1079, promulgada em 10 de abril de 1950, em seu artigo 14, trata do impedimento de presidentes da República e diz, explicitamente, que para aplicar a pena ao mandatário é preciso que ele tenha cometido “crime de responsabilidade”.

Confira, abaixo, o que a Constituição considera crimes de responsabilidade

golpe 1

Os golpistas tentam provar que Dilma atentou contra a Lei Orçamentária. Isso é uma balela. A manobra contábil chamada pela mídia de “pedalada fiscal” jamais deu causa a acusação de um único chefe de Poder Executivo municipal, estadual ou federal. Estão dando “um jeitinho” para derrubar Dilma.

Essa história de que Dilma cometeu crime de responsabilidade por causa das “pedaladas” é tão fraca quanto a versão de que não é necessário que um presidente tenha cometido crime de responsabilidade para ser impedido, que é a tese mais apreciada pelos golpistas depois que ficou claro que não dá para enquadrar as “pedaladas” no conceito de crime de responsabilidade.

Não é à toa, portanto, que se formou essa onda imensa contra o impeachment de Dilma. Uma onda que, espantosamente, inclui até jornais conservadores do dito Primeiro Mundo.

A revista Forbes, insuspeita de ser “comunista” ou “petista”, afirma que a Operação Lava Jato foi apenas uma armação para derrubar Dilma. E que após a queda dela a Operação pode até continuar investigando empresários corruptores, mas poupará políticos corruptos pois os investigadores só queriam provocar a queda do atual governo.

Já na TV britânica, na semana que finda, o comediante John Oliver abordou a crise política brasileira e o processo de impeachment em seu programa na HBO. Ele destaca que Dilma está sendo cassada por bandidos e aponta o ridículo da situação.

O periódico francês Le Monde afirma que o impeachment de Dilma é um “espetáculo midiático” conduzido pela Rede Globo para pressionar deputados a votarem a derrubada do governo

O jornal britânico Financial Times, aliás, sendo uma das bíblias do capitalismo, apesar de repetir parte do discurso golpista opta pelo pragmatismo e afirma que o Brasil vai se ferrar economicamente aprovando o impeachment.

O The New York Times, maior jornal do mundo e igualmente insuspeito de ser petista, é ainda mais duro com os golpistas tupiniquins, chamando de corruptos todos os parlamentares que querem tirar do poder uma presidente contra quem não pesa uma única denúncia de corrupção.

O espanhol El País diz que os deputados brasileiros aceitaram pagar um “preço vergonhoso” para tirarem do poder uma presidente contra quem nada pesa em termos de crime de responsabilidade ou qualquer outro. O preço seria salvar a pele de Eduardo Cunha

Pelo Brasil, pululam manifestações de artistas e intelectuais contra o impeachment. Entrarão para a história videoclipes como o dos rappers Tico Santa Cruz e Flávio Renegado, comunicando aos golpistas que os setores da sociedade que rejeitam o golpe não irão aceitar que ele seja desfechado. Há muitas outras produções condenando o golpe. Uma fila interminável de atrizes e atores, muitos da Globo. Mas esse videoclipe que você assiste a seguir tem tudo para se tornar o hino da resistência que haverá ao golpe se ele vingar

Para concluir a exposição de motivos pelos quais o golpe não será aceito, se vingar, manifestação da presidente Dilma Rousseff gravada em vídeo revela, didaticamente, como e por que esse golpe está sendo dado

Diante dessa massa crítica que se formou contra o impeachment, será praticamente impossível impedir que, se o pior ocorrer, o país entre em convulsão. Esperemos que o showzinho que o gangaster que comanda a Câmara preparou, colocando lado a lado grupos contra e pró impeachment em frente ao Congresso durante a votação, não termine em desastre.

Mas, seja como for, é praticamente impossível que o golpe seja dado e no dia seguinte todos acordem irmanados e felizes, confiantes em que agora, sim, o Brasil vai, como ocorreu quando derrubaram Collor. Quase um quarto de século atrás, a derrubada de Collor uniu o país. Era praticamente impossível encontrar alguém que o defendesse.

Com Dilma, está sendo diferente. Não são apenas a imprensa internacional, artistas e intelectuais brasileiros e estrangeiros que denunciam que a democracia brasileira está sendo violentada. Essa turma da foto abaixo não vai ficar sentada vendo os golpistas desmontarem todo sistema de proteção social edificado no Brasil ao longo de mais de uma década.

golpe 2