Golpistas vão perder seja qual for o resultado dessa votação infame

Análise

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A única coisa que podemos fazer neste domingo da infâmia, em que os votos da maioria dos brasileiros foram desrespeitados pelos desatinos de umas poucas centenas de deputados, é lamentar o ponto a que chegamos.

Todos sabemos exatamente o que está sendo decidido hoje. Os argumentos contra a derrubada do governo constitucional e legítimo de Dilma Rousseff foram expostos na internet, nas ruas, nos debates, nos fóruns mais elitizados ou no boteco da esquina.

As esquerdas fizeram um excelente trabalho ao longo das últimas semanas. Partidos de oposição de esquerda ao governo Dilma uniram-se aos grupos governistas para lutar contra o golpe. Está sendo tudo feito como deveria. Só que com um ano de atraso, no mínimo.

Mas, seja como for, as esquerdas agora enxergam o que não quiseram ver ao longo dos últimos 13 anos, que as políticas públicas adotadas por Lula e Dilma estão muito longe de ser o que a direita de fato faria se estivesse no poder.

Um exemplo do que pretendem os golpistas é o que a Fiesp, aquela dos patos, pretende fazer com direitos trabalhistas se chegar ao poder pelo voto indireto em Michel Temer – e é disso que se trata a votação deste domingo no Congresso, de uma eleição indireta para ditador.

Entrevista do ex-presidente da Fiesp Benjamin Steinbruch ao portal UOL revela o nível de virulência dessa direita golpista. Proposta muito popular entre a turma de Michel Temer e Eduardo Cunha vem do baronato industrial paulista: acabar com essa “mordomia” de trabalhador ter uma hora de almoço sendo que, segundo esses dementes, dá para o peão almoçar em 15 minutos.

Confira, abaixo, o tipo de mentalidade que querem que governe o Brasil.

Meu trecho preferido desse filme de terror que você acaba de assistir, é este:

Aqui temos uma hora de almoço. Normalmente, não precisa de uma hora. Se você vai numa empresa nos EUA, você vê [o funcionário] comendo o sanduíche com a mão esquerda e operando a máquina com a mão direita

Mas voltemos ao golpe. A vitória ou a derrota do impeachment só ocorrerá de fato quando o Senado se pronunciar sobre a decisão da Câmara. E, seja como for, os golpistas vão estar lascados.

Se o golpe for derrotado, Dilma poderá repactuar seu governo com os agentes políticos. E a continuidade da aventura, se Cunha vier a desencadear novos processos de impeachment, irá gerar uma comoção na sociedade e um dano irreparável à imagem do Brasil no exterior.

Mas, se o golpe vingar, aquelas esquerdas que se uniram tão tardiamente estarão organizadíssimas, tanto nas ruas quanto no Congresso.

Cerca de um terço do Congresso estará mobilizado com o único objetivo de boicotar um governo ilegítimo por falta de votos. E as coisas prosseguirão assim até que sejam convocadas novas eleições.

Mas seria nas ruas que o novo governo enfrentaria maior resistência. Agora na oposição, as esquerdas estarão sintonizadas e com um objetivo comum. E a esquerda organizada e unida é um inimigo poderosíssimo.

Ver PSOL, PT, PDT e PC do B atuando em sintonia com movimentos sociais e sindicais, com intelectuais e artistas, é um alento. Haverá uma oposição fortíssima que não permitirá a Temer o que ele e seu grupo de conspiradores não permitiram a Dilma.

O que os golpistas esquecem é que o eleitorado majoritário que está eventualmente posicionado contra Dilma espera que tudo se resolva por milagre no exato momento em que ela deixar o poder.

Só um imbecil acredita que, com o país convulsionado, a economia vai se consertar assim. Quando o povo descobrir que lhe venderam uma mentira, ficará furioso, sobretudo porque a queda de Dilma se fará acompanhar de retirada de direitos.

Por fim, a saída de Dilma dará discurso a Lula e ao PT. E como Lula ainda é extremamente popular mesmo com toda artilharia que vem sofrendo, sua candidatura para 2018 será fortíssima, com ou sem golpe.

Vão prender o líder da oposição e das pesquisas de intenção de voto para presidente? Vão tentar condenar Lula em um processo nebuloso? Ora, criarão um mártir. E a situação convulsionada do Brasil travando a economia fará o resto do serviço…