Querida Dilma Bolada, assim fica feio

Crônica

dilma bolada

 

Dilma Bolada, você explodiu nas redes sociais faz uns três anos, se não me engano – mas também não faz diferença. Sua projeção, em boa parte, deve-se ao seu inegável talento. Isso ninguém tira de você. Porém, você me lembra aquelas pessoas que, ao longo da última década, melhoraram de vida como nunca, mas atribuem essa melhora só a si mesmas.

Sempre costumo perguntar a quem diz isso por que não melhorou de vida antes. Se as políticas dos governos do PT não têm nada que ver com o carro novo, a casa nova, o filho na faculdade, enfim, com tudo o que você conseguiu só depois que Lula chegou ao poder, e se tanta gente melhorou ao mesmo tempo, então estamos diante de uma das maiores coincidências já vistas.

Com você aconteceu o mesmo, DB – permita-me a intimidade. Seu talento ficou hibernando até que a “búlgara vermelha” lhe servisse de inspiração. Você veio da Baixada Fluminense – é isso mesmo, correto? – e do anonimato para se projetar de uma forma que por certo jamais sonhara.

Ano passado, surgiu uma história de que o PSDB havia lhe oferecido meio milhão de reais para mudar de barco em pleno ano eleitoral. Dizem que a campanha da Dilma real cobriu a oferta e você não mudou.

Seja como for, você foi contratada pela campanha de Dilma. Não sei quanto lhe pagaram e nem quero saber. Trabalhar em uma campanha política é um direito de qualquer um. Porém, o destaque que a aproximação com Dilma e o PT lhe rendeu por certo ajudou a impulsionar sua brilhante carreira.

Isso sem falar dos contratos que ganhou. Disseram-me até, em um camping digital do PT, que você cobrara vinte mil reais por uma palestra. Convenhamos: Dilma Rousseff é a fada-madrinha da Dilma Bolada. É ou não é?

Porém, segundo o portal Terra, você não teve seu contrato renovado com a agência de publicidade que presta serviços ao PT e, por isso, diz que Dilma “pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”.

Não sei… Acho que não. Acho que você ganhou muito dinheiro com a Dilma real e com o PT e se não teve seu contrato renovado, parece-me lícito imaginar que isso se deve à contenção draconiana de gastos que todo mundo está tendo que fazer.

Sabe, DB, também não gosto do PMDB, mas o PT se aliou a ele e venceram a eleição juntos. Hoje, o PMDB tem uma representação parlamentar muito mais influente. O peso do partido no governo se tornou muito grande e, aliás, legítimo, pois está referendado pelo voto popular.

Saiba, DB, que parte dos 54 milhões de votos que Dilma Rousseff teve no ano passado são votos peemedebistas. A gente pode até questionar o que leva alguém a votar no PMDB, mas não pode tirar a legitimidade de quem votou na atual presidente simplesmente porque ela se aliou a esse partido.

Entenda, minha cara, o governo Dilma não foi eleito só por petistas, apesar de esse ser o partido da presidente.

O que está acontecendo no país, minha cara, é que o governo não tem como governar sem o Congresso e, infelizmente, o PMDB é o PMDB – que usa todas as armas para ter cargos.

Mas é o mesmo PMDB que se aliou a Lula e a Dilma Rousseff em eleições anteriores. Não é um PMDB mais ou menos degradado; é o PMDB de sempre, velho de guerra. Continua degradado, jamais votaria nele, mas é impossível governar sem ele, hoje.

Se Dilma Rousseff não governa sem apoio no Congresso, o povo se dá mal. Porque um governo tem que ter condições de governar, do contrário não pode tomar as medidas que interessam a todos.

Enxergo por aí a aliança com o PMDB e a necessidade de mantê-lo apoiando o governo. Lamento pelos ministros que se foram – alguns, como o da Educação, eram muito bons. Porém, entendo que, neste momento, não adianta ter os ministros ideais e não conseguir governar.

Precisamos recolocar o país na normalidade democrática, DB, porque o país está flertando com o inverso desse preceito sine qua non para qualquer democracia. E o reforço à aliança com o PMDB pode ajudar nesse sentido.

Porém, quero voltar à sua decisão de anunciar, espalhafatosamente, seu rompimento com Dilma Rousseff e, foi dado a entender, com o governo dela, já que você estava na equipe que dá apoio publicitário ao governo e ao PT, antes de ser desligado pela não renovação do contrato.

Dilma Rousseff não começou a governar em janeiro deste ano; está aí há quase cinco anos. Só por causa dessa reforma ministerial você diz que errou ao fazer todos os elogios que fez a ela ao longo desses anos todos? A reforma ministerial apagou tudo que você viu de bom nesse governo?

Fica difícil acreditar nisso, DB.

Sinceramente, espero que você tenha sorte na sua carreira. Acho você muito inteligente, bem-humorada, um talento que deve ser aproveitado. Contudo, por ter idade para ser seu pai – e, em pouco tempo mais, até seu avô – quero lhe dar um conselho que daria ao meus filhos e netas: dinheiro não pode ser o único objetivo da vida de ninguém.

Dinheiro é consequência do trabalho sério. Vem naturalmente, ainda que se vier dessa forma possa vir em menor quantidade. Mas eu lhe garanto que é melhor ganhar bastante dinheiro sendo coerente do que ganhar uma montanha de dinheiro sendo incoerente.

Você é jovem, tem a vida inteira pela frente. Uma carreira promissora. Se tiver mesmo valor, Dilma Bolada não será a sua última criação de grande sucesso, apesar de ter sido a primeira.

Não estou dizendo que dinheiro foi a principal motivação de seu rompimento – claro que a pressão no entorno social também influi –, mas essa matéria do Terra sobre você não ter contrato renovado com a tal agência ligada ao PT me preocupou. Fica difícil acreditar que rompeu relação tão próxima – e que lhe foi tão profícua – só pelo PMDB.

Perdoe-me, mas é o que penso.

Fique bem.