Que o Congresso assuma responsabilidade pela perda do grau de investimento

Análise

grau de investimento

 

Curiosamente, dramaticamente, assustadoramente, umas tantas horas após a publicação do artigo Cobrar imposto de quem tem mais ganharia apoio da sociedade, este Blog assistiu, decepcionado, à confirmação do seguinte trecho do texto que publicara:

O desequilíbrio fiscal pode afundar a economia. Trocando em miúdos, se o país continuar a gastar mais do que arrecada em breve o investidor começará a tirar dinheiro daqui e aplicar em outros países que não corram risco de, em algum lugar no futuro, quebrar, pois quem gasta mais do que ganha pode até pagar as contas enquanto tiver reservas, mas, em algum momento, essa pessoa, empresa ou país deixará de cumprir seus compromissos (…)”

Por volta das 13 horas do day after ao rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s – nota que, agora, nos coloca no “grau especulativo” –, o Banco Central do Brasil já havia posto à venda 1,5 bilhão de dólares de nossas reservas cambiais.

O intento foi o de pôr fim ao início de um ataque especulativo que o país não sofria há mais de uma década, desde o ocaso do governo Fernando Henrique Cardoso.

Conforme previu o parágrafo do post anterior (acima reproduzido), a perda do grau de investimento – ou desconfiança do mercado na solidez econômica do Brasil –  fez investidores do mercado financeiro começarem a tirar seus dólares daqui, no que, se nada for feito, serão seguidos pelos investidores do setor produtivo tão certo é quanto o alvorecer de cada dia.

Ainda que seja inútil essa discussão, em vez de haver comunhão emergencial para o país evitar um ataque especulativo que lhe ceifou quase meio ponto percentual de suas reservas em cerca de duas horas de funcionamento do mercado financeiro, começou a discussão sobre de quem é a culpa pelo que aconteceu.

Nesse contexto, os presidentes da Câmara e do Senado vestiram a carapuça, segundo o UOL:

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da Câmera [nota do editor: o português do UOL], Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmaram nesta quinta-feira (10) que o Congresso não tem culpa pela perda do grau de investimento do Brasil, retirado nesta quarta (9) pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s

Bingo. A culpa é deles mesmos. O governo propôs o ajuste fiscal. O Congresso rejeitou. Não importa que agentes políticos externos atuaram para interferir na decisão do Congresso de não aprovar o ajuste fiscal com a celeridade necessária, o que importa é que quem tem voto e poderia ter aprovado medida que a própria S&P atribuiu à falta do ajuste, é o Congresso.

Sem caixa, Dilma manda para o Congresso um Orçamento para 2016 com previsão de déficit de 30 bilhões. O Congresso que não quis aprovar medidas para equilibrar o Orçamento diz que não aponta soluções, apenas faz críticas e se recusa a dizer de onde esse dinheiro será tirado.

Falam em cortar gastos do governo, mas sempre de forma genérica.

“Reduzam ministérios”, dizem uns; “demitam funcionários públicos”, dizem outros; “criem imposto sobre fortunas”, “criem CPMF”, dizem aqueles que sabem que para criar impostos é preciso que o Congresso aprove.

O Congresso se recusou a aprovar todas as tentativas que o governo fez de adotar o ajuste fiscal, em meio a “pautas-bomba” que CRIAVAM GASTOS em vez de economia em um momento em que o país tem que economizar para não sofrer fuga de capitais que pode afundá-lo em recessão e desemprego.

Não importa o que dizem os formadores de opinião da grande ou da pequena mídia, o que dizem os empresários, o que dizem os sindicatos e movimentos sociais. Quem tem a caneta na mão é o Congresso. Não fizemos o ajuste porque o Congresso não deixou.

Ponto final.