Eleição das ironias: economia deve reeleger Dilma

Análise

 

A esta altura, a presidente Dilma Rousseff deve estar refletindo quanto lhe custou escutar ex-assessores que pregavam que ficasse silente diante do avassalador noticiário terrorista quanto à economia. Nova pesquisa Datafolha, feita na terça-feira (21), mostra o que manchete da Folha de SP desta quarta qualificou como “disparada” de otimismo econômico do país.

 

Os dados são estarrecedores. Como é possível que em menos de dois meses de propaganda eleitoral no rádio e na TV as pessoas tenham mudado tanto de opinião? O que aconteceu na economia que justificasse uma reversão tão grande de expectativas? Os gráficos da Folha mostram o fenômeno em sua completude.

Em junho, 2/3 dos brasileiros acreditavam que a inflação iria subir. Míseros 21% achavam que ficaria no ritmo em que estava e microscópicos 8% achavam que iria diminuir. Sessenta e poucos dias depois, 56% acham que os preços ficarão como estão ou vão diminuir e uma minoria de 31% acha que vão aumentar.

Na questão do emprego, porém, é que o fenômeno parece ainda mais gritante. Com a taxa de desemprego caindo há anos, mês a mês, mesmo assim, em junho, 48% dos brasileiros achavam que poderiam perder o emprego. Só 28% achavam que o desemprego ficaria no mesmo patamar e míseros 18% achavam que iria cair. Hoje, 64% acham que vai diminuir ou ficar como está.

Há pelo menos dois anos que a mídia vem martelando que haveria piora econômica. Em junho, essa pregação obteve o seu melhor resultado. Havia quase um clima de pânico no país. Todavia, bastaram pouco mais de meia dúzia de semanas para que um terrorismo econômico vendido por tevês, rádios, jornais, revistas e grandes portais fosse solenemente enterrado.

Em 26 de setembro, este que escreve participou de entrevista que Dilma concedeu a blogueiros. A pergunta que fiz foi considerada um pouco “agressiva” por alguns. Quis saber da presidente se, em eventual segundo mandato, seu governo continuaria “apanhando calado”. Dilma respondeu que, infelizmente, teria que adotar um caminho que tentou evitar.

A pesquisa Datafolha recém-publicada mostra quanto sentido fez e faz a pergunta que fiz à Presidente. Meramente reagindo ao terrorismo econômico, a campanha da reeleição destruiu o discurso da mídia e da oposição.

Hoje, a maioria sabe em que contexto alguns indicadores econômicos pioraram, o contexto de uma crise internacional que a mídia escondia em tentativa – até certo ponto bem-sucedida – de atribuir os problemas a “má gestão”. A recente pesquisa Datafolha é ruim para Aécio Neves, mas é muito pior para uma mídia na qual a maioria dos brasileiros não confia.