Alckmin, o suicídio da esquerda, a blindagem da mídia e os genéricos de chuchu

Análise

 

Curiosamente, na última quarta-feira participei de reunião de ativistas digitais e blogueiros de esquerda na qual disse que Geraldo Alckmin se fortalecera muito com as “jornadas de junho” e com os protestos contra a Copa. E que a blindagem da mídia e a postura dos que concorrerão com o tucano à sucessão estadual ajudaram a fortalecê-lo.

Dito e feito. O governador paulista aparece agora, na última pesquisa Datafolha, com 44% das intenções de voto, seguido de longe por Paulo Skaf (PMDB), que tem 21%, por Gilberto Kassab (PSD), que tem 5%, e por Alexandre Padilha (PT), que tem 3%.

Vale dizer que não adianta colocar em dúvida o Datafolha. Não existe possibilidade de o instituto falsear uma pesquisa como essa, em que o primeiro colocado aparece com vantagem tão grande. Muito melhor do que enfiar a cabeça na terra como “avestruz” é procurar entender o que está acontecendo. Vamos ao entendimento, pois.

Muitos se espantaram com essa pesquisa. Afinal, com São Paulo sofrendo racionamento disfarçado de água, com o transporte por trens transformando a vida dos paulistanos em um inferno, com os assaltos batendo recordes, como é possível que o povo paulista apoie tanto o responsável pelo abastecimento de água, pelo metrô e pela CPTM e pelas Polícias Civil e Militar?

Se tiver um mínimo de senso de gratidão, Alckmin deve começar agradecendo a partidos como o PSOL e o PSTU pelo caos que instalaram em São Paulo. Quem é da capital, sentiu na pele o sofrimento que as “jornadas de junho”, com seus black blocs, e o movimento contra a Copa desencadearam. Quem é do interior, teme que a “baderna dos comunistas” chegue até lá.

Vale registrar que o apoio ao tucano no interior é muito maior porque os problemas mais evidentes das duas décadas de PSDB em SP transparecem com mais força na capital paulista.

Mas, para a população majoritariamente conservadora de São Paulo, quem seria mais habilitado a enfrentar a ultraesquerda suicida e suas manifestações tresloucadas do que um conservador tão convicto e legítimo quanto Alckmin?

Claro que a blindagem da mídia ajuda. Desde que estourou o escândalo dos trens em São Paulo, a imprensa paulista não publicou uma só crítica a Alckmin. Sobre o racionamento velado de água, limita-se a pedir “colaboração” aos paulistas. Em vez de criticar o governo tucano pelo surto de assaltos, a mídia só fala em “queda dos assassinatos”.

Há, também, um componente cultural da maioria do povo de São Paulo, que não sabe a quem atribuir os problemas que o Estado enfrenta, pondo tudo na conta do governo federal.

Em dezembro do ano passado, participei de entrevista do prefeito Fernando Haddad na sede da prefeitura paulistana e ele me relatou que vive sendo cobrado pelos problemas no metrô, apesar de ser responsabilidade do governo estadual. Com isso, Haddad tentou explicar como o povo paulistano não sabe de quem cobrar cada obrigação do Estado.

Por último, temos os pré-candidatos que disputam com Alckmin a sua sucessão. Conheço bem o ex-ministro Alexandre Padilha. É um excelente gestor. Responsável pelo Mais Médicos e autor de uma das melhores articulações do PT com blogueiros e ativistas digitais, poderia revolucionar São Paulo, caso fosse eleito.

Contudo, o problema de Padilha é a política. Sua estratégia comunicacional, como sói acontecer com o PT em todos os níveis (municipal, estadual e federal), é péssima. Apesar de ter ideias muito diferentes das de Alckmin, seu discurso oficial parece com o de qualquer tucano. Aliás, como brincou Lula uma vez, ele tem até “cara de tucano”.

O peemedebista Paulo Skaf, por ser da elite – que, sabe-se lá por que, encanta os paulistas, inclusive uma enorme parte dos paulistas pobres –, é mais palatável por suas origens, o que explica ter chegado rapidamente ao segundo lugar da corrida pela sucessão no governo do Estado.

Porém, tanto Padilha quanto Skaf aparentam ser genéricos de chuchu – apelido dado ao atual governador de São Paulo por seu modo insosso de ser. Aí, entre o original e as “imitações”, os paulistas ficam com o primeiro.

Claro que a campanha eleitoral propriamente dita, ou seja, no rádio e na tevê, deve melhorar os índices de Padilha. Afinal, o PT sempre terá entre um quinto e um terço do eleitorado paulista. Mas, para tanto, o petista terá que se viabilizar, primeiro, no PT.

Para se viabilizar no próprio PT – e não somente entre as lideranças do partido –, Padilha terá que mudar completamente de postura e de discurso.

Com um discurso e uma postura (aparentemente) muito parecidos com o dos tucanos, o pré-candidato do PT pode ter dificuldades inclusive no próprio PT e entre os movimentos sociais e sindicais que historicamente apoiam o partido.

Recentemente, Padilha foi entrevistado no programa Contraponto (produção mensal do sindicato dos bancários de São Paulo). Os entrevistadores foram Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada), Paulo Salvador e Diego Sartorato (Rede Brasil Atual), Altamiro Borges (Barão de Itararé), Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania) e Renato Rovai (Revista Fórum).

Minha participação no programa começa aos 48 minutos e 52 segundos (48:52). Nas intervenções que fiz, insisti seguidamente com o pré-candidato do PT ao governo paulista sobre se ele pretendia denunciar a blindagem da mídia a Alckmin e os ataques dessa mídia à sua candidatura, mas ficou claro que ele não pretende atuar nessa linha.

Abaixo, o vídeo do programa. O post prossegue em seguida.

 

 

Tenho muita fé em uma eventual administração de Padilha. É um homem sério, um administrador competente, mas me preocupa muito seu discurso, sua postura, sua estratégia. Ele precisa se diferenciar de Alckmin, não se mostrar um “tucano do bem” para o eleitorado conservador, que, apesar de sua ideologia, está comendo o pão que o diabo amassou sob o governo tucano.

Tanto Padilha quanto Skaf aparentam ser meros genéricos de chuchu, apesar de que, falando no candidato petista, eu saiba que, administrativamente, ele seria diametralmente diferente de Alckmin. Mas não basta Padilha ser o bom político e o grande administrador que é. Disputando a mesma faixa do eleitorado que Alckmin, ficará difícil.