Essa elite mesquinha não aceita dar nem um osso ao povo

Crônica

 

Criei este Blog para estimular cada concidadão que viesse a me ler a não desanimar de exercer a própria cidadania, mas, infelizmente, o que direi neste texto talvez não seja um bom exemplo dessa conduta, pois escrevo um tanto quanto desanimado com o Brasil.

O que de tão grave aconteceu?, perguntará você. Não foi nada de especial, respondo eu. É apenas cansaço. Uma espécie de “gota d’água” inoculou-me tal sentimento.

Trata-se dessa oposição furiosa ao programa Mais Médicos. Como se não bastassem as cenas lamentáveis de mesquinharia e desonestidade de parcela significativa de uma categoria profissional que deveria se pautar pelo humanismo acima de tudo, ainda se tem que aturar uma imprensa digna dessa gente, com seus colunistas usando, em bloco, metáforas racistas para desacreditar uma iniciativa de governo que poderá levar alento ao sofrimento de milhões de desassistidos.

Mas só por isso você se entrega?, treplicará o leitor. Não, não é só por isso. É por tudo.

Há 500 anos que essa elite mesquinha se recusa a aceitar qualquer mísera esmola que se queira dar a essa parcela imensa do povo brasileiro à qual sempre faltou tudo e para a qual ainda falta até uma mísera consulta com um médico.

Os tostões do Bolsa Família para famílias que mal têm o que pôr em seus estômagos é “incentivo a vagabundagem”; cotas para jovens da etnia majoritária no país se ver um pouco menos mal representada no ensino superior é atentado ao mérito “inerente” aos brancos que sempre dominaram a quase totalidade das vagas; redução da conta de luz para pessoas paupérrimas aumentarem a quantidade de calorias que ingerem, é “populismo”.

Não há nada que se queira dar ao povo brasileiro mais sofrido que essa gente que gasta em um almoço quantias que alimentariam uma família pobre por um mês não regateie através de uma imprensa feita por brancos de classe média para brancos de classe média.

É muito dura a vida do povo brasileiro. Não é à toa que continuamos sendo a única nação neste estágio de desenvolvimento a ter uma desigualdade social tão profunda e que, ainda que essa gente mesquinha não enxergue, está pondo o Brasil em guerra civil.

Sinto muito, portanto, não poder, neste texto, cumprir a parte que me cabe em uma luta que é de todos, até daqueles que lutam em sentido contrário, apesar de não saberem disso. Só o que posso fazer aqui, pois, é lamentar que já tenha vivido, no mínimo, mais da metade do tempo que me resta neste mundo sem ter visto o Brasil se tornar um pouquinho só menos egoísta.

Diante de tal estado de espírito, fico por aqui. Conto com a compreensão de todos. Até porque, amanhã é outro dia e não há mal que sempre dure. Sobretudo se for um mal passageiro como este que, desta feita, acometeu-me a alma.

PS: não estou desistindo de escrever o Blog, de militar politicamente, enfim, não estou desistindo de nada. Desisti, apenas, de fazer algo mais neste post além de lamentar.