Diretor do Datafolha contesta as suspeitas sobre queda de Dilma

Reportagem

 

Surgiram dúvidas sobre recente pesquisa Datafolha que aponta queda de até 27 pontos percentuais na aprovação da presidente Dilma Rousseff.

Leitor do blogueiro Luis Nassif Flávio chamado Luiz Sartori afirma que a base amostral da pesquisa Datafolha que apontou uma queda na aprovação da presidenta Dilma Rousseff, está errada.

A denúncia foi encampada pelo Blog Tijolaço, que apontou que a pesquisa subverte a distribuição do eleitorado segundo os dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral.

Leia, a seguir, a denúncia do Tijolaço.

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Do blog Tijolaço

A recente pesquisa Datafolha que dá conta de expressiva queda de Dilma Rousseff entrevistou eleitorado com perfil mais elevado de grau de instrução do que o realmente existente, o que reduz o nível de aprovação dela, que, como todos os institutos concordam, obtém seus melhores resultados entre os mais pobre e, por conseguinte, com menor grau de instrução.

Segundo o TSE, os eleitores, no Brasil, com grau de instrução de, no máximo, ensino fundamental representam 57,8% do total.

No Datafolha, eles são apenas 41% do total. Uma diferença de “apenas” 16% dos 140 milhões de eleitores, ou 23 milhões de brasileiros subitamente escolarizados pelo Datafolha.

Os eleitores de ensino médio, completo ou incompleto, diz o TSE, são 34,7% do eleitorado. No Datafolha, eles representam 42%.

E os de ensino superior, também completo ou incompleto, são, nos números oficiais, 7,8% do total. Mas o Datafolha mais que dobra este percentual, entrevistando 17% de eleitores nesta condição escolar.

Isso, na base total. Na base ponderada, que é a utilizada para fazer os cálculos percentuais, a coisa ainda piora, como você vê aí embaixo. Com essa ba se, chegamos aos números monstruosamente distorcidos que Sartori exibe em seu post: 38,4% de nível fundamental e 19,8% de nível superior.

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O Blog da Cidadania decidiu questionar o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, que já deu entrevista a este espaço em 2010, durante a corrida presidencial, quando o Movimento dos Sem Mídia denunciou o mesmo Datafolha, o Ibope, o Sensus e o Vox Populi à Procuradoria Geral Eleitoral porque esses institutos estavam trocando acusações sobre pesquisas que divulgavam em relação à sucessão presidencial. A PGE determinou abertura de inquérito policial.

Em e-mail de resposta ao questionamento que lhe fiz, o diretor do Datafolha contestou as dúvidas do leitor de Nassif e do Tijolaço. Este Blog informa que a resposta de Paulino será verificada.

Abaixo, a resposta do diretor do Datafolha

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Caro Eduardo Guimarães,

os dados do TSE relativos a escolaridade dos eleitores são muito defasados. Encontram-se atualizados apenas nas poucas cidades onde já houve o recadastramento biométrico – por exemplo, em Curitiba.

Aliás, é o que explica a forte queda na taxa de abstenções nessa cidade nas últimas eleições.

Caso algum estatístico desavisado elabore uma amostragem nacional ou pondere seus resultados com base nos dados de escolaridade do TSE, cometerá distorções nos resultados apurados. 

Há, por exemplo, eleitores que tiraram o título quando cursavam o ensino médio e hoje já são pós-graduados, mas permanecem nos registros do TSE com a escolaridade original.  Por isso, o Datafolha controla as bases de escolaridade de suas pesquisas como resultado e não como cotas.

Vale lembrar, ainda, algumas coisas:

1. o universo da pesquisa é a população em geral e não eleitores. Mesmo que os dados do TSE estivessem atualizados não seriam parâmetro para balizar a amostra.

2. As pesquisas anteriores do Datafolha, comparáveis com a atual, são também representativas da população brasileira acima de 16 anos e o perfil do eleitorado é semelhante. São as mesmas que apresentavam aprovação ao governo acima de 60%.

3. Mesmo que se considerasse o perfil defasado do TSE e os resultados da pesquisa fossem ponderados por eles, as mudanças não seriam significativas e as conclusões seriam semelhantes, até porque a queda na avaliação do governo foi generalizada, por todos os segmentos.

Por último, devo dizer que as pesquisas de opinião são instrumentos valiosos para ajudar na compreensão de fenômenos sociais como os que ocorreram agora no Brasil. O Datafolha disponibiliza todos os detalhes de suas pesquisas em seu site e também os envia regularmente para instituições acadêmicas como USP e UNICAMP. 

Essa pesquisa revela muitos detalhes do impacto que as manifestações provocaram no diversos segmentos da sociedade. Há material de sobra para orientar a todos que queiram tomar e propor medidas para superar o revés. 

Aliás, são essas respostas à sociedade que determinarão os resultados dos próximos levantamentos que o Datafolha sempre fará.

Espero ter contribuído.

Um abraço.

Mauro Paulino