O temor do Azenha sobre a lista fascista do colunista da Veja

denúncia

No fim do ano passado, o colunista da revista Veja Augusto Nunes publicou em seu “blog” – hospedado no site da revista, da qual é colunista – uma lista esquisita em que divide os que apoiam o ex-presidente Lula em “núcleos” parecidos com aqueles em que o procurador-geral da República dividiu os réus da Ação Penal 470 (inquérito do mensalão).

Na visão do colunista, empresários, sindicalistas, políticos, jornalistas, artistas e acadêmicos dividir-se-iam em “núcleos” de apoio a Lula – “político, operacional-financeiro, artístico-intelectual-colunável, jurídico, jornalístico-esgotosférico, sindical, presidiário, internacional e doméstico” (este último, inclui a família do ex-presidente).

Este blogueiro foi incluído no “núcleo jornalístico-esgotosférico” – ao menos na primeira de várias outras versões da lista que foram surgindo e que foi a mais difundida, como ocorre com qualquer post na internet logo que é publicado. Figurei ao lado de nomes como Luis Fernando Veríssimo, Mino Carta, Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim.

Veja, abaixo, a lista completa.

Inicialmente, pareceu-me uma brincadeira – de gosto obviamente duvidoso – de alguém que enxerga a política como guerra, em vez de substituta para a guerra como realmente ela é. Alguém que, apesar da cara-de-pau de ainda se dizer “isento”, não passa de um militante político.

Alguns dias após a publicação da lista, avisado por leitores fui conferi-la e fiz até uma brincadeira aqui no Blog agradecendo ao Augusto Nunes por ter me colocado ao lado de nomes importantes da vida nacional.

No dia seguinte, reuni-me com amigos blogueiros no nosso quartel-general oficioso, o restaurante Sujinho, na avenida Consolação, no centro de São Paulo. Com Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna, Altamiro Borges, Renato Rovai, Conceição Oliveira e Conceição Lemes, ri muito da lista do colunista da Veja.

Do começo do ano para cá, porém, o Azenha começou a me dizer de sua preocupação com aquela lista. Sua tese é a de que, mesmo se for brincadeira de Augusto Nunes – o que já não tenho certeza que seja, pois hoje me parece ter um propósito –, algum psicopata desses que se vê aos montes todo dia na internet postando comentários nojentos em blogs e sites pode resolver agir como aquilo que é (psicopata) e cometer uma violência.

De fato, já pude verificar na carne que alguns desses “trolls” que se vê na internet não são flor que se cheire. Em 2010, no encontro de blogueiros progressistas de Brasília, que foi prestigiado pelo presidente Lula, que ali compareceu e deu uma palestra, uma dupla de rapazes espantou as centenas de pessoas presentes por ter ido lá para me atacar.

Os dois rapazes mandaram confeccionar vários cartazes coloridos em que me insultavam e acusavam de manipular pessoas aqui no Blog. Logo que cheguei, aproximaram-se de mim e me insultaram e ameaçaram de uma forma que pensei que partiriam para a agressão física.

Pelo Twitter, ano passado, um outro rapaz chegou a fazer ameaça pública de me encontrar e me espancar. As ameaças foram tão insistentes que o caso foi levado à ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário. Detalhe: o rapaz aparece em fotos ao lado de outro colunista-blogueiro da Veja, Reinaldo Azevedo, e de alguns militares.

Há alguns meses, no site Brasil 247, onde meus posts são reproduzidos ininterruptamente, um leitor sugeriu que eu fosse abatido a tiros devido às minhas opiniões políticas.

Isso sem falar dos ataques à minha família, que não poupam nem a minha filha Victoria, que, como todos sabem, é uma criança portadora de paralisia cerebral e que está gravemente doente, vivendo em regime de internação hospitalar via home-care.

Apesar de tudo isso, por reiteradas vezes disse ao Azenha, diante de seus avisos, que não levava a sério a hipótese de a lista de Augusto Nunes poder estimular algum desses psicopatas a me “justiçar”. Talvez por isso, meu amigo tomou uma atitude mais radical que, aliás, surpreendeu-me, porque ele não é dado a teorias conspiratórias.

Azenha é o melhor exemplo de jornalista de verdade que conheço. Ele tem uma visão extremamente profissional. Não se deixa embalar por emoções. E, como bom jornalista, questiona tudo, inclusive o lado petista, ainda que enxergue no lado tucano da política uma situação mais preocupante para o país por fatos como essa lista do Augusto Nunes.

Aliás, quem é tido como dado a teorias conspiratórias sou eu. E o Azenha é a minha antítese.

A atitude radical que o Azenha tomou aparentemente não só para me alertar, mas para denunciar algo que ainda não sei o que é, porque ainda não conversamos pessoalmente – só conversamos por email porque a vida dele, de repórter da Record, é uma correria só –, foi publicar um post em que externa seu temor por minha segurança e de minha família.

Para quem não leu, reproduzo, abaixo, o post que o Azenha publicou na última segunda-feira em seu site, o Viomundo.

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Temendo pela segurança de Eduardo Guimarães, o “apátrida”

publicado em 25 de março de 2013 às 17:36

por Luiz Carlos Azenha

Cláudio Marques era jornalista. Escrevia num jornal de grande circulação em São Paulo, durante a ditadura militar. Era o Shopping News. Jornal gratuito, mas que muita gente lia aos domingos. Cláudio Marques publicou uma série de notas sobre comunismo na TV Cultura de São Paulo.

Não sei se chegou a citar o nome de Vladimir Herzog. Sei, de ter lido, que uma delas dizia respeito à guerra do Vietnã. Cláudio aparentemente acreditava que a cobertura da Cultura era antiamericana. Vladimir Herzog acabou preso e executado.

Eu, em geral, não ligo para aquelas correntes espalhadas pela internet. Prefiro atribuí-las a psicopatas. Porém, recentemente, uma em particular me chamou a atenção:

“Os soldados do passado deram a sua vida pelo Brasil, honrando o seu juramento; os do presente jamais permitirão que seja denegrida a imagem do soldado de todos os tempos. O Exército é uno e indivisível

ESSES INDIVÍDUOS NÃO SÃO PATRIOTAS, SÃO APÁTRIDAS E SÓ FAZEM MUITO BARULHO! NA HORA DO PEGAR PRA CAPAR, VÃO FAZER IGUAIS OS BANDIDOS DO MORRO DO ALEMÃO: DEBANDAR!. AH! O ZÉ DIRCEU NOS ANOS 60 TAMBÉM FUGIU PRA CUBA.

“MEXEU COM LULA, MEXEU COMIGO!”

Depois de 25 seguidores condenados e indo para a cadeia por Corrupção, eis que está sendo divulgada a lista daqueles que apoiam tudo isso e mais um pouco:

Parte dos que tem obrigação de defender os corruptos. São pagos para isso através de seus altos cargos no primeiro escalãO.

Seguem os nomes divulgados por Augusto Nunes da VEJA:

Confira a edição revista, aperfeiçoada e ampliada da lista dos que acham que mexer com o chefe supremo é mexer com eles.

Segue a famosa lista publicada pelo blogueiro Augusto Nunes, de Veja. Estou certo de que a intenção original dele era uma brincadeira bem humorada, ainda que você não ache graça nisso.

Não conheço o Augusto Nunes pessoalmente. No meio jornalístico não temos inimigos, mas adversários ideológicos. Pelo menos assim penso eu.

Porém, ao parir a lista, Augusto Nunes pariu um monstro que pode escapar a seu controle.

O Tarso Genro, o Abílio Diniz e o Luiz Carlos Bresser Pereira, citados na lista, têm meios de se defender. Física e, se for o caso, legalmente.

Apoiar um governo, por pior que ele seja, não é crime, a não ser que consideremos Lula/Dilma a encarnação de Hitler.

Mas lá no meio da lista está o nome de um simples blogueiro, Eduardo Guimarães, que não tem meios nem de garantir a sobrevivência da própria filha adoentada.

Espero que a Victoria não tenha lido a lista. Se leu, espero que não tenha entendido. Ou que sua condição física não se deteriore em função de saber que o pai faz parte de uma lista de “apátridas”. Fico preocupado com a interpretação que a esposa e as filhas do Eduardo deram à lista.

Ele é “inimigo” da Pátria? Alguém a ser eliminado?

Sei que o Eduardo, como vendedor de autopeças, não tem condições de pagar um segurança.

Anders Breivik, o matador de Oslo, como se viu no testemunho dele durante o julgamento, agiu acreditando piamente que estava fazendo justiça contra 69 jovens que achava serem perigosos esquerdistas do Partido Trabalhista da Noruega.

Há muitos psicopatas soltos por aí.

A internet é um meio poderosíssimo, capaz de incentivar as maiores loucuras. Há centenas de casos que eu poderia citar como exemplo, além da viagem psicótica do Breivik.

O que fiz? Em primeiro lugar, alertei o próprio Eduardo.

Em segundo lugar, acho que em nome da decência jornalística o Augusto Nunes deveria deixar explícito, em sua coluna, que aqueles apoiadores de Lula podem ser adversários políticos a combater, mas nunca inimigos a serem eliminados.

Eu não gosto de listas. Goebbels certamente tinha a sua. Beria também. Minha família sofreu tortura psicológica durante mais de 10 anos quando o nome de meu pai, comunista, foi incluída numa lista escrita por um delegado de polícia que era desafeto pessoal dele. Essa tortura deixou sequelas permanentes.

Os autores, portanto, não podem se eximir de responsabilidade quando as listas que compõem e divulgam têm o potencial de deflagrar uma caça às bruxas, bem no estilo macartista.

Fica o alerta.

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O Viomundo é um site sóbrio. Surpreendeu-me o Azenha transformar em post os alertas que vem me fazendo por conta da tal lista. Como já disse, ainda não conversamos direito. Não sei, portanto, o que o levou tão longe – além da nossa grande amizade, claro.

Todavia, é possível deduzir que ele tem detectado sinais de que essa lista fascista não foi só uma brincadeira e que tem um propósito. Isso se torna fácil de imaginar devido ao fato de que ela vem circulando em correntes de e-mails, entre outros meios. E sempre exaltando os ânimos de gente maluca como a que mencionei acima e que já me ameaçou.

O que posso fazer diante disso tudo? Muito pouco.

Evidentemente que não posso parar de escrever ou de dizer o que penso. Não tenho coragem de ter medo a ponto de me deixar intimidar – meu maior medo é não poder exercer minha liberdade de expressão.

E, claro, não posso contratar seguranças – pelas razões que o Azenha, que sabe como é minha vida, bem descreveu. Só me resta, portanto, apelar ao bom senso das pessoas: política não é guerra; política serve para substituir as guerras.

Por fim, Augusto Nunes, com sua lista fascista, tornou-se responsável por todos os que nela figuram ou figuraram. Há que analisar, portanto, a possibilidade de todos os citados fazerem um Boletim de Ocorrência preventivo, pois, se algo acontecer a qualquer um, o colunista-blogueiro da Veja terá que responder pelo ocorrido.