Após 8 anos, jornais se lembram de que São Paulo tem governo

Análise

Janeiro nem terminou e o governo da capital paulista, após intervalo de oito anos (2005-2012), volta a ser objeto das preocupações e alvo dos ataques da grande imprensa escrita local, ligada ao PSDB – os jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo. Mas não só. Por ser do PT, a administração da cidade está sofrendo ataques até nas páginas do carioca O Globo.

Não há nada de errado em a imprensa paulista-paulistana e até a imprensa nacional cobrirem a governança de uma megalópole como São Paulo, a maior cidade do país e uma das maiores do mundo. O erro existiu no período em que o governo paulistano sumiu do noticiário.

Entre 2005 e 2012, as administrações José Serra e Gilberto Kassab praticamente não foram notícia nem quando notícia havia. No período em questão, São Paulo mergulhou no caos, o que explica a derrota de José Serra na eleição do ano passado. Motivo para a imprensa se interessar pela cidade, portanto, havia. E muito.

Pode-se dizer, sem medo de errar, que o empenho do ex-prefeito Gilberto Kassab em criar o seu PSD enquanto abandonava a administração paulistana foi mais coberto pela grande mídia nacional do que o trabalho que fez à frente dessa administração.

Eis que, a partir de reunião recente do ex-presidente Lula com o prefeito Fernando Haddad, um furor jornalístico se abateu sobre os mesmos veículos que passaram os últimos oito anos sem dar a menor bola para como a cidade era administrada.

Folha e Estadão, particularmente, enxergaram que São Paulo está sendo co-administrada pelo ex-presidente por ele ter se reunido com o atual prefeito da cidade. Um tipo de reunião absolutamente comum entre dois correligionários políticos e que ocorreu à farta entre Serra e Kassab, após o primeiro abandonar a prefeitura para tentar vôos mais altos.

Aliás, na Folha de São Paulo, uma colunista escreveu um texto impressionante em que critica ferozmente o simples ato de Lula e Haddad terem se encontrado, chegando ao cúmulo de insultar o prefeito da cidade chamando-o de “pau-mandado” de Lula.

Começa, portanto, exatamente o mesmo processo que ocorreu durante o governo Marta Suplicy, quando a administração paulistana estava todo dia naqueles e em outros órgãos de imprensa, mas sempre de forma negativa. Os insultos que principiam a ser atirados contra Haddad marcaram a cobertura da imprensa contra Marta durante seu governo.

Quebrada pelos governos Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta (1997-2000), São Paulo precisava, desesperadamente, de recursos, razão pela qual Marta implantou uma taxa de lixo de valor irrisório, mas que virou cavalo-de-batalha desses veículos e impediu sua reeleição.

Apelidada pejorativamente de “Martaxa”, fustigada dia sim, dia também por Folha, Estadão e Veja, a ex-prefeita perdeu qualquer condição de voltar ao governo de São Paulo, apesar da imensa obra social de seu governo, que adotou soluções revolucionárias para a Educação e para o transporte público, com os CEUs e o bilhete-único.

Como este Blog previu no alvorecer de 2013, Haddad tem uma missão quase impossível pela frente. São Paulo está em estado de calamidade – criminalidade, trânsito caótico, sem programas sociais, Educação e a Saúde falidas e uma dívida astronômica deixada pelo antecessor. E, como se fosse pouco, uma imprensa que tentará sabotá-lo dia após dia.