Ombudsman da Folha responde à Blogosfera Progressista

Crônica

No último sábado (13 de outubro de 2012), a ombudsman do jornal Folha de São Paulo, Suzana Singer, respondeu a questões da blogosfera sobre a primeira página daquele veículo que estampou a decisão do Supremo Tribunal Federal de condenar o ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, no âmbito do julgamento do mensalão – do PT.

Leia, a seguir, as questões da Blogosfera e as respostas que Singer deu. Em seguida, leia os comentários finais do Blog.

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Blogosfera Progressista – No último dia 10 de outubro, a Folha estampou em sua primeira página uma foto pouco convencional do ex-ministro José Dirceu sob uma única palavra escrita em letra muito maior do que a convencionalmente usada para esse tipo de manchete no seu jornal. A senhora, encarregada de criticá-lo sob a ótica do leitor, aprova essa conduta?

Suzana Singer – Em dias especiais, a “Primeira Página” precisa mudar para mostrar que tem notícia importante. Subir o tom sem cair na histeria é um desafio que a Folha não venceu na quarta-feira passada.

A capa com a condenação de José Dirceu no Supremo Tribunal Federal lembrava jornal sensacionalista no dia seguinte à prisão de um assassino conhecido.

A fotografia enorme no alto mostra um Dirceu “fantasmagórico”, na definição de um leitor que gostou da capa. A luz vinda por baixo ilumina apenas o rosto do ex-ministro, em uma imagem obtida no domingo passado, quando ele foi votar.

As letras da manchete cresceram muito: de corpo 80 para 174, um aumento de 117%. Em vez de título, apenas uma palavra: “culpados” -e não “condenados”, que seria a reprodução fiel do que havia sido decidido no STF e não carregaria um juízo moral.

A composição parecia refletir um clima de comemoração. “Dava para ouvir os fogos de artifício estourando ao fundo”, disse outro leitor, este ofendido com a capa.

Quando houve o impeachment de Fernando Collor, fato histórico mais importante que o mensalão, a “Primeira Página” também “falou mais alto” e até deixou transparecer a satisfação com o ocorrido na tarja “vitória da democracia”.

O contexto era outro, havia mobilização de rua e a Folha torcia explicitamente pelo impeachment. Mesmo assim, o foco não estava no presidente deposto. A foto principal nem é a de Collor, mas a da festa dos deputados na Câmara.

Usados os mesmos parâmetros da quarta-feira passada, a capa de 30 de setembro de 1992 teria uma daquelas fotos em que Collor parece diabólico e apenas uma palavra em letras gigantescas: “Expulso”.

Resumir o escândalo do mensalão às figuras de Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e Marcos Valério é reduzir a importância do caso. O fundamental do julgamento no Supremo não é a punição de “fulano”, mas ter deixado uma mácula histórica no governo Lula. Seria melhor uma manchete que dissesse “José Dirceu, homem forte do governo Lula, é condenado por corrupção”.

A Secretaria de Redação diz que “a importância histórica do julgamento justifica o espaço dado à manchete”. “É a condenação por corrupção de políticos de mais alta patente já realizada pelo Judiciário brasileiro, que terá enorme repercussão em decisões futuras.”

Foi uma pena o jornal ter derrapado bem no ápice do julgamento, porque houve, durante a cobertura, um esforço de manter a neutralidade, diferenciando-se de outros jornais e revistas que embarcaram em uma campanha condenatória.

BP – Donde se deduz que a senhora enxerga uma tentativa de prejudicar o PT através da condenação de  José Dirceu, a menos que se possa imaginar que um jornal dessa importância faria uma primeira página como aquela apenas por não gostar do condenado – ou, como quer a Folha, “culpado”. A senhora concorda, então, que a Folha de São Paulo persegue o PT?

SS – Mas, apesar de desastrada, a capa de quarta-feira não prova, como querem muitos, que a Folha persegue o PT. Quem espalha essa tese esquece que o jornal bateu forte no governo Fernando Henrique Cardoso, como se pode aferir revendo as reportagens sobre a denúncia de compra de votos da emenda da reeleição (1997) e sobre o escândalo do leilão da Telebrás (1999).

BP – Perdão, mas as coberturas que a Folha deu a escândalos do governo FHC como aquele que tinha provas materiais de que deputados da base daquele governo foram pagos para votar pela reeleição do então presidente da República ou como o escândalo que tinha gravação daquele presidente de que o banqueiro Daniel Dantas estava sendo favorecido por  seu governo duraram semanas ou, no máximo, poucos meses. Já o mensalão – do PT –, não ficou uma só semana sem destaque na Folha nos últimos sete anos. Não lhe parece uma conduta partidarizada de seu jornal?

SS – Nesses 20 anos, o jornal não abriu mão do apartidarismo, mas parece ter se esquecido como ser eloquente sem perder a elegância.

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Não se podia esperar muita coisa da jornalista Suzana Singer. Ela foi secretária de Redação da Folha quando o jornal divulgou em primeira página manchete que acusava o ex-presidente Lula de ter assassinado 200 pessoas por conta do acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas ou quando publicou, também na primeira página, ficha policial falsa da hoje presidente Dilma Rousseff, meses antes de ela e José Serra disputarem a Presidência.

Todavia, a entrevista que este Blog publicou acima não passa de uma representação do tipo de jornalismo que faz a Folha e o resto da Sociedade Interamericana de Golpe (SIG), como Paulo Henrique Amorim bem definiu a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que deverá contar com discurso da presidente Dilma Rousseff na cerimônia de encerramento de seu 68º Congresso, que ocorrerá no Hotel Renaissance, em São Paulo, no próximo dia 16, e que contará com a presença de ativistas pela democratização da comunicação como este blogueiro – ainda que do lado de fora do local do evento, claro.

Mas que fique bem claro: a entrevista que o título deste post anuncia, jamais existiu. Suzana Singer, por óbvio, não deu entrevista nenhuma à “Blogosfera Progressista”. Quando muito, respondeu veladamente ao colega de jornal e “decano do colunismo político brasileiro” Janio de Freitas, que, em recente entrevista ao programa Roda Viva afirmou que a grande imprensa funcionou como esquema de apoio político ao governo FHC.

Essas duas séries de reportagens que Singer cita tentam diferenciar a Folha do resto da grande imprensa durante o governo FHC, que se limitou a defender o governo tucano das denúncias daquele jornal. Todavia, o diário da família Frias, à época de tais escândalos, limitou-se a publicar fatos e a defesa do governo em absoluto equilíbrio jornalístico, como deveria ser, e não da forma obsessiva, exagerada e até distorcida como trata os escândalos petistas.

Este blog, então, enganou o leitor até este ponto do texto com a finalidade de demonstrar como é possível forjar uma grande farsa sem se comprometer mentindo claramente.

Senão, vejamos. O título do post não mente quando afirma que Singer respondeu a questões da Blogosfera Progressista. Pode não ter sido essa a sua intenção, pois parece mais provável que sua coluna tenha respondido a críticos como Janio de Freitas e a leitores que têm questionado o jornal através dela, mas seu texto respondeu, de alguma forma, ao que os blogs questionam.

Todavia, mesmo sem mentir explicitamente, o post mente ao impensável – mas só até que se autodenuncia –, pois induz o leitor a cogitar que a jornalista falaria a blogueiros que seu patrão e os políticos amigos dele tratam como criminosos. Se o post tivesse sido encerrado com a “entrevista” inventada, então, muita gente seria enganada, sobretudo se comentários de protesto fossem vetados.

Mas veja você, leitor, como é possível conferir ar de veracidade a uma mentira valendo-se de fatos legítimos. No primeiro parágrafo, digo que Suzana Singer deu as “respostas” no sábado, dia 13 de outubro, e a coluna dela saiu na edição do dia seguinte (domingo, 14), o que poderia levar o leitor a imaginar que a Folha apenas publicou texto de resposta da ombudsman a blogueiros.

É possível, pois, mentir descaradamente sem contar uma mentira. Foi o que a ombudsman fez ao citar escândalos de FHC que seu jornal divulgou, pois omite tom, intensidade e duração da cobertura e a débil cobrança ao “engavetador-geral da República” que o ex-presidente tucano manteve prudentemente no cargo durante os oito anos em que governou o Brasil.

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Comunico aos amigos que, atendido no hospital, não foi necessário ser internado. Ainda padeço de cólicas de rins que, segundo mulheres que já deram à luz, chega a ser igual ou pior às dores do parto, mas conseguirei controlar a dor com medicamentos e comedimento de forma que não ficarei de fora da luta que Sampa travará nos próximos 15 dias para se libertar de um dos piores grupos políticos que já administraram a cidade.