Carta aberta ao candidato pelo PSOL a prefeito de São Paulo

Crônica

Prezado Carlos Giannazi,

Primeiramente, devo agradecer a você pela entrevista que concedeu a mim, ao Renato Rovai, à Conceição Oliveira, ao Rodrigo Vianna e ao Serginho Amadeu na última quinta-feira (12.06) à noite na sede da revista Fórum – sua candidatura saiu na frente ao usar a blogosfera para enviar sua mensagem à sociedade.

Reitero, também, o cumprimento que fiz na oportunidade ao seu partido pela iniciativa de propor a cassação do hoje ex-senador (graças a Deus) Demóstenes Torres. O PSOL soube aproveitar o trem da história, propondo medida que ficará registrada em seus anais. Quem perdeu essa chance, certamente agora se arrependeu.

Quero lhe dizer que sua entrevista confirmou percepção que extraí de pesquisa que, como você pôde notar quando nos reunimos, fiz sobre a sua trajetória política, cujo início formal remonta a 2000, quando se elegeu vereador pelo PT no âmbito da vitória de Marta Suplicy na sucessão do ex-prefeito Celso Pitta.

A percepção que tive de sua postura como homem público, foi das melhores. Como discordar de Carlos Giannazi quando, logo após a posse como vereador, em 2001, propôs uma CPI para investigar a construção de 300 escolas pela gestão anterior da prefeitura de São Paulo?

Graças ao seu esforço, Giannazi, ainda que não tenha tido conseqüência adequada devido à impunidade que grassa no Brasil, ao menos a roubalheira do governo Pitta foi desmascarada ao serem detectados os gastos imorais e criminosos que a investigação que você propôs apurou.

Você tem uma bela trajetória em termos de propostas para São Paulo, como a de defender os gastos na Educação ou combater abusos como o da cobrança de pedágios. Além disso, na entrevista que me deu, mostrou-se sereno diante do contraditório. Aceitou ser inquirido sem estabelecer pré-condições, democraticamente.

Dito tudo isso, caro Giannazi, devo confessar que a maioria de suas respostas não me satisfez. Tratarei, primeiro, de algumas dessas respostas que não me satisfizeram, deixando as satisfatórias para o final.

Lembrei a você o primeiro ano da gestão Marta (2001), quando, poucos meses após a posse, ela já enfrentava a sua oposição e a de outros vereadores e militantes petistas a medidas administrativas inevitáveis como o remanejamento de gastos em Educação, por exemplo, e proposição de taxas.

Tentei fazer ver a você, Giannazi, que administrar é diferente de cobrar uma administração. De pedra você vira vidraça, querendo ou não.

Ora, Marta Suplicy assumiu uma bomba, em 2001. Após oito anos sendo governada por Paulo Maluf e por Celso Pitta, São Paulo estava, literalmente, quebrada. O orçamento de pouco mais de dez bilhões de reais de então nem se compara aos mais de 30 bilhões de hoje. Era preciso pôr a casa em ordem e, nesse aspecto, havia que dosar os gastos públicos.

Para mostrar que, caso seja eleito, terá que lidar com problemas como o de Marta em 2001, lembrei que até em seu partido quem ganha eleições tem que ser um pouco menos purista e um pouco mais pragmático. Lembrei entrevista que o senador Randolfe Rodrigues deu ao Globo em que critica setores do PSOL por serem “fascistas” e o próprio partido por falar hoje “só para guetos”.

Como se sabe, Randolfe foi acusado por setores do PSOL de ter se “vendido ao imperialismo” por ter adotado medidas para tentar levar recursos para o seu Estado, o que o obrigou a conversar com gente que o PSOL julga pertencer àquele “imperialismo”.

É a realidade se impondo, Giannazi. Por conta dela, então, perguntei-lhe como o PSOL faria para governar se o PT é ruim, se o PSDB é ruim, se o PMDB é ruim, se todos são ruins, menos o seu partido e algumas agremiações diminutas. Sua resposta não me convenceu. Dizer que poderá governar sem base partidária, só com pressão de grupos sociais organizados, francamente…

Você teria que aprovar projetos e medidas no Legislativo, Giannazi. Os grupos sociais podem fazer quanta pressão quiserem, mas se você não conversar com o Poder moderador estará burlando o preceito da democracia que é o equilíbrio entre os Poderes. E o Legislativo não teria que se dobrar àqueles grupos e a um Executivo que não dialoga.

Sinto muito, caro Giannazi, mas me parece premissa absolutamente elementar.

Foi por isso que lhe disse que estava reunido ali naquela entrevista com pessoas de meia idade que, antes de tudo, estavam interessadas no melhor para São Paulo, e que o melhor, por tal visão, é um projeto factível, racional, que preveja todas as dificuldades que há para governar uma cidade tão social e culturalmente heterogênea como a nossa.

Suas respostas me fizeram crer que, apesar de sua bela trajetória como político e educador, como administrador não dá para lhe dar voto de confiança, pois não deu a entender como faria mais por São Paulo conduzindo um projeto autocrático sob discurso de que um prefeito pode fazer tudo o que quiser coagindo o Legislativo com grupos de pressão.

Ao não me dizer com quem governaria e ao dizer que pretende usar a mídia para vender à sociedade as suas excelentes propostas , e logo após criticar duramente a mesma mídia, Giannazi, você aumentou ainda mais as minhas dúvidas. Como lhe disse o Rovai, a mídia critica o PT pelo que ele faz de bom, não pelo que faz de ruim. Com você seria a mesma coisa.

Você disse que a mídia não iria se opor à construção de 300 creches, por exemplo. Ora, mas a mídia se opôs aos CEUs de Marta porque seriam “caros”, opôs-se ao Bolsa Família porque seria “esmola”, opôs-se a cotas para jovens negros e pobres nas universidades porque seriam “injustas” com jovens brancos e ricos…

Ora, Giannazi, tenha dó, companheiro.

Ao mesmo tempo, porém, fiz a você uma questão cuja resposta me agradou. Perguntei se considerava o PT igual ao PSDB – e fiz isso logo após você declarar que seu principal adversário na disputa do cargo de prefeito de São Paulo neste ano, será José Serra – e sua resposta foi a de que não considera esses partidos iguais, e de que o PT é melhor.

Meno male.

Ao dizer que não é “antipetista” e ao demonstrar que entende que o objetivo de todos os que pensam São Paulo é tirar tucanos e demos (e demo-tucanos disfarçados) do poder para tentar reverter a hecatombe que provocaram na nossa cidade, você me deu esperança de que sua campanha não irá se atirar em uma fuzilaria a Fernando Haddad que beneficie Serra.

Respeito a sua candidatura, Giannazi. Contudo, devo ser franco e você haverá de me perdoar: sua eventual vitória na disputa pelo cargo de prefeito de São Paulo seria um dos fenômenos políticos mais surpreendentes que já se viu, portanto são para lá de reduzidas as suas chances de vencer essa eleição. Ponto.

Assim sendo, o que se depreende é que sua candidatura servirá, muito mais, para dar ao PSOL o que ele não tem hoje, ao menos um único assento na Câmara Municipal de São Paulo. Para o Poder Executivo, não será na capital paulista que o seu partido irá governar alguma coisa pela primeira vez. Ao menos não desta vez.

Todavia, torço para que o PSOL consiga a sua vaga no Legislativo paulistano. Contanto que seja uma vaga a menos para a direita demo-tucana e seus satélites. Se for para manter a esquerda do tamanho que está e furtar apoio na Câmara a uma eventual administração Haddad, e para que seu partido fustigue essa administração antes que possa sequer tomar pé, estou fora.

Sua candidatura pode ser boa para São Paulo, Giannazi, se levantar temas de interesse da cidade e denunciar o que nela não funciona. Se se limitar a fustigar quem tem chance real de vencer Serra só para conseguir assento para o PSOL em um Legislativo que você demonstra não aprovar, sua candidatura será ruim.

Concluo reiterando meu apreço por sua trajetória, por seu espírito democrático e manifestando confiança em sua serenidade e Inteligência, desejando que use esses atributos todos em benefício de uma comunidade imensa como a paulistana, a qual já não agüenta mais a situação em que está.

Um abraço fraterno do

Eduardo Guimarães

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Assista, abaixo, à entrevista de Carlos Giannazi a blogueiros