Campanha eleitoral irá obrigar Serra a explicar privataria tucana

Análise

 

“Esse livro é um Lixo. Por que vou comentar lixo?”. Foi assim que o ex-deputado, ex-senador, ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato a presidente por duas vezes (2002 e 2010) José Serra respondeu a setores independentes da imprensa que ousaram questioná-lo por conta das denúncias contidas no best-seller A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

Apesar de a obra ter vendido centenas de milhares de exemplares, tornando-se um inequívoco best-seller, de continuar sendo um sucesso de vendas que segue frequentando à lista dos livros mais vendidos e, também, de ter produzido um requerimento de CPI aprovado pela Câmara dos Deputados, as denúncias contra Serra jamais foram tratadas em profundidade pela grande imprensa.

Todavia, entrevista que o candidato pelo PSOL a prefeito de São Paulo, Carlos Giannazi, concedeu à Folha de São Paulo, a qual foi publicada na edição deste domingo daquele jornal, mostra que a moleza do tucano está para acabar, ainda que pela mão de terceiros.

Abaixo, o trecho em que Giannazi promete cobrar o tucano pelo que a grande imprensa abafou:

— Vou cobrar do Serra o que está escrito no livro “Privataria Tucana”. Ele ainda não explicou isso. Não é apenas um livro, mas um dossiê com provas concretas. Ele disse que era um “lixo”, mas não explicou. Vou ler trechos do livro nos debates para ele explicar se vai fazer o mesmo com a Prefeitura de São Paulo.

Essa parte da entrevista do candidato do PSOL foi extirpada da edição impressa da Folha e só foi reproduzida na íntegra que o jornal publicou exclusivamente na internet. Como se vê, a mídia ainda acredita que pode esconder do eleitorado de São Paulo as denúncias recheadas de documentos comprobatórios contidas no livro da privataria tucana.

O esforço para blindar Serra será em vão. A mídia terá que tratar do assunto nem que seja para defendê-lo, pois não será só Giannazi que levará o assunto aos debates e até ao horário eleitoral gratuito no rádio e na tevê. É certo que o tema frequentará praticamente todas as outras campanhas.

A razão é muito simples: nova pesquisa Datafolha mostra Serra ainda à frente dos outros candidatos, ainda que com vantagem reduzida e com crescimento de Haddad.

Como em toda e qualquer eleição, portanto, o líder das pesquisas vira alvo de todos os outros candidatos, menos dos de mentirinha como Soninha Francine, do PPS, que apenas fará dobradinha com o tucano nos debates e nos programas eleitorais no rádio e na tevê.

Há especulações no sentido de que, até o segundo semestre, a CPI da Privataria Tucana, que já tem número suficiente de assinaturas, pode vir a ser instalada na Câmara dos Deputados.

A CPI tão temida pela oposição e pela mídia tucana estaria sendo guardada para funcionar paralelamente à CPI do Cachoeira, o que, de uma forma ou de outra, irá enfrentar o dilúvio do mensalão, o qual a mesma mídia colocará no ar em pleno processo eleitoral, valendo-se do julgamento do caso pelo STF.

Em um momento em que a mídia tentará carimbar o PT como “partido da corrupção”, dizem que podem surgir elementos adicionais aos do livro da privataria. Isso ocorrerá quando vier à baila, na CPI do Cachoeira, o envolvimento da Veja com o esquema criminoso. Tudo isso a partir de agosto, que, para os tucanos, também deverá ser um mês de muito desgosto.