Fernando Haddad precisa acontecer

Opinião do blog

Reclamam de que não tenho abordado tema regional que, por razões que se mostrarão óbvias, tornar-se-á objeto da atenção do país dentro de alguns meses. Refiro-me a uma sucessão municipal que deverá ser candente: a de São Paulo.

Não fosse a pré-candidatura de José Serra, apesar da significação que acaba tendo qualquer eleição na maior cidade do país não creio que a próxima adquiriria a importância que adquirirá. Com efeito, o resultado da próxima eleição paulistana refletirá em 2014, o tucano se elegendo ou não.

Se vencer, Serra estará praticamente fora do páreo na próxima eleição presidencial – parece pequena a possibilidade de voltar a engabelar o eleitorado descumprindo nova promessa que fará de cumprir o mandato até o fim, caso eleito.

Em caso de derrota neste ano, seja pelo PSDB, seja por outro partido, Serra deverá estar na cédula de candidatos a presidente em 2014. Simples assim.

Ressaltada a importância da sucessão em São Paulo neste ano, entra-se na parte mais árida do assunto: a decolagem de Fernando Haddad, que tem, pela frente, uma pedreira de não fazer inveja a ninguém, de tão grande.

Apesar de não haver nenhum nome forte pela esquerda, ainda, nada garante que o candidato do PT possa vir a ocupar esse espaço, pois estima-se que venham a surgir candidaturas por outros partidos à esquerda de Serra e de Celso Russomano, que fragmentam o voto conservador.

Semana passada, gravei em vídeo uma questão que foi apresentada ao pré-candidato Fernando Haddad em sabatina a que se submeteu no auditório azul do Sindicato dos Bancários de São Paulo – quem quiser assistir, clique aqui. Sua resposta me deixou inseguro.

Haddad é, por certo, um excelente candidato, do ponto de vista de seu preparo. Mas, em termos de carisma e de ousadia de propostas, quem assistir a alguma de suas sabatinas perceberá que ainda está devendo.

A impressão que se tem é a de que o PT aposta na mesma estratégia da eleição presidencial, de que o ex-presidente Lula possa transferir ao seu candidato in pectore a própria popularidade, tese que se ampara em pesquisas que revelaram que expressiva parcela do eleitorado paulistano pretende votar em quem Lula indicar.

Em São Paulo, porém, creio ser insuficiente…

O paulistano espera um nome. A situação da cidade está cada vez pior, a vida cada vez mais dura e o desalento, crescente. Se não surgirem propostas inovadoras para problemas que nos causam tal estado de espírito, o eleitorado apostará no que conhece, ou seja, em Serra.

Haddad, pois, precisa acontecer. E acontecer significa lançar propostas que possam calar no coração e na alma de um povo que parece ter desistido da cidade – ou seja, que, em grande parte, acha impossível melhorá-la devido à dimensão de seus problemas.

Nesse aspecto, até agora não vi nada no candidato além de suas credenciais, que, por sinal, são muito boas. Tão boas que ele gasta tempo citando-as quando, para o eleitorado paulistano, credenciais estão no fim da fila de elementos que deverá requerer.

Não fiquei satisfeito com a resposta do candidato à minha questão, mas imagino que isso tenha decorrido do formato dessas sabatinas, que impede maior aprofundamento. Todavia, Haddad não me motivou, o que poderia ter feito com um discurso mais politizado.

O grande problema que vejo hoje no PT é que o partido descuida muito da política. Haddad, por exemplo, é candidato da oposição, mas parece infectado pela condição de situacionista que viveu até pouco tempo atrás.

Oposição não pode ter a postura de Haddad; tem que ser “agressiva”, questionadora, irreverente. Tem que criticar, fazer cobranças, exigir respostas, comparar propostas. Precisa fazer o eleitor refletir, o que não será feito com essa fleuma de lorde inglês.

Meu voto deverá ser do PT em mais esta eleição. Todavia, menos pelo candidato do partido do que pelo que ele representa. Nada contra o simpático ex-ministro, mas é que, até o momento, ele não me ofereceu outra motivação além de sua origem política.