Doe o seu Natal

Crônica

Publicado, originalmente, em 18 de dezembro de 2011 às 22:17

Há muito que a família Guimarães optou por fazer do Natal um momento em que o principal presente que nos damos uns aos outros é abrir mão de ser presenteados. Descobrimos o prazer de tentar distrair semelhantes da consciência do fato inabalável de que os augúrios do período de Festas nada lhes representam.

Dedicamos parte da véspera de Natal a tentar levar alento àqueles aos quais os próximos dias serão como quaisquer outros, quando não piores, pois talvez o período das Festas seja o mais triste do ano para quem, então, terá ainda menos. E que será ainda mais invisível do que nas outras épocas do ano.

Há um fato ainda mais triste, para quem se incomoda com a existência de muitos para os quais não há alento nem nesta época em que supostamente todos se deixam tocar pela generosidade: a maioria se dedica ao fausto, à comilança, à gastança, à ostentação sem uma réstia de consciência humana ou cristã.

O que dizer? Não, não julguemos. Não somos Deus. Mas isso não nos impede de fazer alguma coisa em relação a essa realidade tão deprimente. Podemos substituir o costume de presentear uns aos outros pelo de presentear a quem nada tem.

Nesta véspera de Natal, a mulher de minha vida, com quem divido a luta por três décadas ininterruptas, vestirá seu traje de Mamãe Noel e sairemos pelas ruas de São Paulo em busca daqueles para os quais ninguém dedica nada além de desprezo. Então lhes diremos que sabemos que existem e lhes deixaremos comida e alguma lembrançinha.

O que gastaríamos em presentes entre nós, doamos a esse projeto familiar. E esse é o sentido do Natal: doar.

Não o que não nos falta, mas o que deixaremos de ter para dar a quem nada tem. Posso garantir que já experimentei a sensação e estou certo de que poucos irão se sentir tão presenteados quanto a minha família se sentirá ao fazê-lo.

Esta é a campanha que proponho para este ou, se não for possível, para os próximos Natais: que as famílias usem o que despenderiam em trocas de presentes entre si para levar o mínimo àqueles para os quais a vida não sorriu. A sensação de bem-estar é indescritível. Dinheiro nenhum pode comprar.

Feliz Natal a todos.

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Vejam o tamanho dessa guerreira que é a minha Victoria. Para muitos dos leitores desta página que sabem pelo que ela passou nos últimos anos, acredito que este será o melhor presente de Natal que este blogueiro poderia oferecer.

Feliz Natal, companheiras e companheiros. São os votos de minhas filhas Victoria, Carla, Gabriela, do meu filho, André, da minha esposa, Cristina, da minha neta, Letícia, e, claro, deste vosso companheiro de caminhada.