Todos terão voz

Sem categoria

Havia que optar entre dois belos assuntos. Um deles com menor poder de atração de leitores, mas, certamente, de muito maior importância.  Versaria – ou versará – sobre um dos maiores problemas de saúde e de segurança públicas, as drogas. O outro assunto, bem, é aquele mesmo ao qual, tragicamente, tem se resumido este blog: as mentiras da grande imprensa.

Entre os estudiosos do novo jornalismo que viceja no Brasil e no mundo – que, cada vez mais, vai abrindo espaço para o que se convencionou chamar de “jornalismo-cidadão” –, muitos acreditam que a chave para combater o jornalismo industrial e suas mazelas, entre as quais se destaca a mentira compulsiva, é a produção de conteúdo, ou seja, de “furos” jornalísticos.

Sobram reservas quanto ao peso do jornalismo noticioso em um país em que o que mais se vê na imprensa industrial é opinião e o que menos há, é informação. Com efeito, o principal papel do jornalismo-cidadão, como é o da blogosfera atualmente, é o desmonte do “opinionismo” da grande imprensa, que, repetindo pela terceira vez, não se limita a opinar e desanda a mentir.

Os três parágrafos anteriores afirmam que o jornalismo industrial mente. No quarto, portanto, há que começar a provar. E, para isso, nada melhor do que duas das colunas de maior evidência dessa grande – ou velha? – imprensa, as dos colunistas da Folha de São Paulo Eliane Cantanhêde e Carlos Heitor Cony. E, para não cansar o leitor, reproduzo só o que interessa:

— “O procurador da República, Roberto Gurgel, primeiro disse que não havia o que apurar e depois encaminhou umas perguntas para Palocci”. Eliane Cantanhêde, Folha de São Paulo, 24 de maio de 2011.

— “Temos a ameaça de uma inflação que um entendido por aí já estimou em dois dígitos até o final do ano”. Carlos Heitor Cony, Folha de São Paulo, 24 de maio de 2011.

Enfim, é a isso que a blogosfera progressista tem se resumido desde a sua gênese, há uns pares de anos, a fornecer a contra-informação, ou melhor, a contra-opinião, o contraditório, e a desmascarar essas mentiras grosseiras que, antes da internet, viravam verdade e se espalhavam de boca em boca, ou de ouvido em ouvido.

Sobre a mentira de Cantanhêde, ela tenta vender que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, mudou de idéia sobre os indícios de culpabilidade do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, quando, na verdade, o que houve foi um procedimento padrão do Ministério Público.

Gurgel de fato enviou a Palocci uma intimação para que ele responda a acusações, mas não foi por iniciativa sua ou da instituição em que trabalha e, sim, em cumprimento ao rito processual do Ministério Público de avisar representados da ação movida contra eles e lhes oferecer a oportunidade de replicar as representações.

E quem representou contra Palocci no MPF foi a oposição demo-tucana e não o procurador-geral da República. Dessa maneira, assim como a Procuradoria intimou os institutos de pesquisa no ano passado, avisando-os de que a ONG Movimento dos Sem Mídia representara contra eles, Gurgel fez o mesmo em relação a Palocci.

Já no caso de Cony, há que falar menos. Aliás, o que parece mentira dele pode ser apenas desinformação. Mas, meu Deus!, o sujeito escreve no espaço mais “nobre” daquele veículo de comunicação. O que se publica ali é lido por centenas de milhares de pessoas. No mínimo, quem lá escreve tem que saber o que diz…

Não há um único “entendido” em economia que tenha previsto inflação de dois dígitos (acima de 10%) “até o fim do ano”. O máximo que diziam era que a inflação poderia ultrapassar o teto da meta, de 6,5%. Tal afirmação é delírio ou mentira grosseira – que o leitor escolha o que acha que é. Todos os “entendidos” já vêem queda nos índices, apesar dos Conys da vida.

Pelo menos Cantanhêde sabe que está mentindo. Mas os dois colunistas da Folha ainda pensam que o que escrevem em papel-jornal e que vai parar na internet continua não podendo ser contestado por falta de voz de quem discorda. Para concluir o texto, quero provar ao leitor que não é bem assim.

Em primeiro lugar, vamos nos concentrar no perfil de quem lê jornal impresso hoje. Alguns preferem, ainda, sentar para desjejuar, pela manhã, enquanto lêem as notícias do dia. A grande maioria, a esmagadora maioria, porém, já vira tais notícias na internet no dia anterior, pois quem se interessa em ler sobre política, economia etc., certamente usa internet.

Sim, há os que não usam, mas esses são os mais idosos, são minoria da minoria e vivem, em maioria, fora dos centros urbanos. A grande maioria dos leitores de jornal acessa a internet pelas mesmas razões que lê jornal, seja do trabalho ou de casa mesmo.

Agora vos oferecerei a prova de que, nessa situação de igualdade entre internet e jornal impresso, um comerciante sem formação jornalística que um dia decidiu criar um blog para desabafar mesmo que ninguém lesse pode se contrapor a impérios de comunicação em pé de igualdade.

Na imagem abaixo vocês vêem impressão da tela do computador após buscar no Google a palavra “Palocci”. A busca retornou mais de 2 milhões de resultados – tudo que há na internet contendo essa palavra. Vejam, na primeira página da busca, em que posição estava post deste blog sobre Palocci no meio da noite de ontem – hoje, caiu do quinto para o oitavo lugar.