“Dobradinha” mídia-oposição contra Palocci visa economia

denúncia

Publicado, originalmente, em 21 de maio de 2011 às 10:27

Folha, Estadão, Globo e Veja chegam às bancas, neste sábado, com as capas repletas de acusações a Antonio Palocci. Na noite anterior, o Jornal Nacional apresentou matéria que “informava” que o principal ministro de Dilma teria sido “intimado” pelo procurador-geral da República, apesar de não ser bem isso.

Recomeça, assim, com potência máxima, a “dobradinha” que permeou os oito anos do governo Lula. Cria-se uma acusação sem provas, baseada em dados inconclusivos, a imprensa começa a divulgar manchetes de primeira página ou longas matérias nos telejornais e a oposição vai atrás, pedindo CPI’s.

A “lua-de-mel” entre Dilma e a coalizão tucano-midiática durou menos do que se esperava, nem quatro meses. Esperava-se que a artilharia recomeçasse no segundo semestre, ao menos, mas o processo de liquefação do DEM e do PSDB antecipou a volta das “dobradinhas” entre imprensa e partidos políticos.

Houve “aquecimento” da direita ao utilizar as lutas internas dos aliados governistas contra ministros que desagradaram facções. Mídia e oposição constataram que, apesar do processo de degenerescência dos partidos de direita, a esquerda estava desunida e disposta a “fritar” os tais ministros, até por erros deles mesmos.

Observação: lutas internas existem em qualquer grupo político. As do governismo não diferem das do oposicionismo.

Nenhuma novidade no front, portanto. Era esperado que o processo que tanto atrapalhou o governo Lula recomeçasse e que, como antes, fosse feito de vento, da denunciação do nada, pois o mais escandaloso, na onda contra Palocci, é que ele não fez nada ilegal e que não tenha sido feito até por aqueles que o acusam, entre a oposição.

Você, leitor, viu primeiro neste blog a informação de que o que beneficiou Palocci foi inventado pela oposição quando governou o Brasil. Surpreendentemente, ontem (sexta-feira, 20), o jornalista José Roberto Toledo, do Estadão, publica a surpreendente matéria que você lerá a seguir. Depois dela, sigo comentando.

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Oposição ajudou a criar brecha legal que hoje ajuda Palocci

Por: José Roberto de Toledo – O Estado de S.Paulo

19/05/2011

O Executivo federal apresentou, em 2006, um projeto de lei para proibir os chamados funcionários públicos “anfíbios” de usarem informações privilegiadas obtidas no exercício do cargo para se beneficiarem financeiramente.

O projeto de lei proíbe, entre outras coisas, que servidores de alto escalão – desde ministros aos assessores de nível superior 5 e 6 – se licenciem do serviço público sem remuneração para prestar qualquer tipo de serviço de consultoria privada.

Na época, houve notícia de funcionários da Receita Federal e do Banco Central que ganhavam dinheiro com informações obtidas no exercício da função pública alternando períodos no serviço federal e na iniciativa privada.

O texto, elaborado pela Controladoria Geral da União (CGU), também ampliava de quatro meses para um ano a “quarentena” durante a qual quem deixa o governo fica proibido de exercer função que entre em conflito com o interesse público.

O projeto teve sua tramitação retardada na Câmara por um recurso do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), em 2008, que evitou sua aprovação definitiva pela comissão que o apreciava. Assinaram o recurso 52 deputados, a maioria do DEM, mas também alguns do PSDB.

A justificativa técnica foi que a Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público não realizou audiência pública sobre o projeto. O argumento político foi que o texto dava poderes excessivos para a Comissão de Ética Pública. Como consequência, o projeto teve de entrar na interminável fila de votação do plenário.

Mesmo que tivesse sido aprovado pelo Congresso e entrado em vigor, o projeto não contemplaria o caso do ministro Antonio Palocci. O chefe da Casa Civil enriqueceu prestando consultoria depois de deixar o Ministério da Fazenda, em março de 2006, e após cumprir a “quarentena”.

As contestações atuais se devem ao fato de ele ter voltado ao governo sem que se saiba quais foram seus clientes de 2006 a 2010. Sem essa informação, é impossível para a CGU, por exemplo, verificar se as empresas para as quais Palocci prestou serviço gozam de tratamento privilegiado na atual gestão.

Infelizmente, ninguém descobriu até agora uma legislação que obrigue o ministro a tornar públicos os nomes de seus antigos clientes. Palocci argumenta que não pode revelá-los porque está sujeito ao sigilo comercial. Assume, assim, o desgaste político da falta de transparência, mas escapa pelos buracos da legislação.

Como sempre repetem alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), todos são inocentes até que se prove um fato concreto cuja definição como crime esteja prevista em lei. Para sorte de Palocci, até a oposição ajudou que a legislação seja ineficiente e omissa.

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Descobri essa matéria ontem à noite e repassei a amigos ontem mesmo. Alguns até já a publicaram em seus blogs. Antecipei-me a minha própria publicação porque estava escondidinha no portal do Estadão e explica, tecnicamente, o que venho dizendo, que Palocci não fez nada ilegal ou que tivesse despertado a ira midiática quando foi praticado pelos tucanos.

Coincidentemente, o post vigoroso que publiquei na sexta-feira (“Vocês tampouco conseguirão sabotar Dilma”) se coadunou com as reações de Dilma à ofensiva midiática, conforme revelam mais informações divulgadas na grande mídia. Após as matérias, ainda continuo comentando.

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Dilma vê campanha de difamação e quer contra-ataque

Presidente espera que ministros e cúpula do PT mostrem ‘assertividade’ na defesa de Palocci e não deixem nenhuma denúncia sem resposta

19 de maio de 2011 | 23h 00

Vera Rosa e Tânia Monteiro, de O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – O governo avalia que a crise política envolvendo o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, vai se prolongar e reforçará a estratégia de blindagem de seu mais importante articulador político.

Em conversas ao longo do dia, no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff pediu informações sobre as denúncias contra Palocci e determinou o contra-ataque.

Pelo script traçado, nenhuma denúncia deve ficar sem resposta e tanto os ministros como a cúpula do PT precisam mostrar “assertividade” na defesa do chefe da Casa Civil. Ao receber para almoço o presidente do PT, Rui Falcão, Palocci e o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, Dilma adotou a máxima do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

Recomendou “sangue frio e nervos de aço” para reagir às acusações, pois, no seu diagnóstico, há uma campanha de “difamação” contra Palocci. Lula ligou para o ministro no domingo e ontem, manifestando apoio a ele.

O ex-presidente também tem conversado com Dilma por telefone. Falcão negou que o caso Palocci tenha sido tratado no almoço, mas defendeu o chefe da Casa Civil. “Palocci é um ministro acima de qualquer suspeita. Não há fator de preocupação no governo”, disse ele.

Deputado estadual, o presidente do PT fez coro com a linha geral adotada até aqui pelos aliados. “Ele já deu todas as explicações necessárias.”

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Em meio à crise, Franklin Martins vai ao encontro de Dilma

Folha.com

20/05/2011 – 10h37

BRENO COSTA

DE BRASÍLIA

O ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins está no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidente Dilma Rousseff. Apesar de a agenda oficial informar que a presidente estaria apenas com despachos internos, o ex-ministro, responsável por traçar as estratégias de comunicação do segundo mandato do governo Lula, chegou ao Alvorada às 9h50. A atual ministra, Helena Chagas, está no Palácio do Planalto.

A visita de Franklin ocorre em meio a uma crise no governo, gerada por reportagens publicadas da Folha que mostraram o crescimento patrimonial do ministro Antonio Palocci (Casa Civil).

Hoje, a Folha revelou que o faturamento da empresa de consultoria de Palocci, a Projeto, faturou R$ 20 milhões em 2010, ano em que Palocci coordenou a campanha que elegeu Dilma. O jornal também mostra que a empresa WTorre, beneficiária de uma série de contratos com o poder público, foi uma das clientes de Palocci.

Cerca de 40 minutos antes da chegada de Franklin, um carro sedan prata, com vidros escuros, chegou em alta velocidade pela entrada de serviço do Alvorada, seguido por outro carro, que fazia escolta. Não foi possível identificar quem estava dentro dos veículos.

O carro é da Presidência e costumava ser usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seus deslocamentos privados. No entanto, pode ser cedido para deslocamentos mais discretos de outros integrantes do primeiro escalão do governo. AFolha está em frente ao Alvorada desde as 8h. Até agora, o carro oficial do ministro Antonio Palocci não entrou na residência oficial de Dilma.

Também chegou ao Alvorada, logo após Franklin Martins, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e ex-chefe de gabinete de Lula durante os oito anos de mandato.

Segundo a assessoria de Lula, o ex-presidente está no Panamá, onde estava prevista uma palestra dele hoje num evento patrocinado pela construtora Odebrecht.

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Detalhe: o trecho em negrito na matéria da Folha.com foi acrescentado depois. Originalmente, a matéria foi publicada sem o adendo que lhe desmonta a insinuação de que Lula entrara escondido no Palácio da Alvorada.

Chega-se, finalmente, ao xis da questão. O que pretendem mídia e oposição? Por que estão fazendo isso sabendo que, aos quatro meses e pouco de governo, seria catastrófico para o país ter a queda do seu principal ministro, pois a Casa Civil é o ministério dos ministérios?

O processo de apodrecimento dos partidos de direita (DEM, PSDB e PPS) é a explicação. Não apenas perderam a eleição e estão sem bandeiras, mas o processo em que mergulharam tende a se aprofundar. Não sabem o que propor para tentarem retomar o poder daqui a quatro anos e, assim, persistem no denuncismo.

Mas a idéia, agora, diferentemente de antes, não é a de desmoralizar o governo diante do eleitorado. Mídia e oposição já sabem que enquanto a economia for bem não haverá denúncia que lhes permita voltar ao poder. Então, a estratégia, agora, é a de fazer a economia piorar para gerar o ambiente propício a vencerem a próxima eleição.

Observação: não está descartada a idéia de derrubar o governo Dilma, se o cavalo passar selado.

Você está se perguntando se o Eduardo não está exagerando, certo? Mídia e oposição seriam tão corruptas e traidoras dos interesses nacionais a ponto de prejudicarem o país só para poderem retomar o poder? Veja a matéria abaixo, publicada hoje pela Folha, e julgue por si mesmo. Volto ao fim do texto, pela última vez.

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Folha de São Paulo

21/05/2011

Caso pode afetar a confiança de investidores estrangeiros no país

ÉRICA FRAGA

DE SÃO PAULO

A crise política atual tem provocado poucos calafrios no mercado financeiro, mas uma eventual saída do ministro Antonio Palocci poderia afetar a confiança de investidores no país.

Desde o governo Lula, Palocci ocupa o posto de favorito de investidores, banqueiros e economistas.

Na administração de Dilma Rousseff, é visto como uma espécie de garantia de que o governo vai tentar avançar na agenda de reformas importantes para melhorar, por exemplo, a infraestrutura do país.

“Palocci é uma espécie de salvaguarda do bom senso no governo. Intervenções como a da Vale já assustaram investidores. Uma saída do ministro poderia ter impacto negativo nas decisões de investimento de longo prazo”, disse um banqueiro à Folha.
A opinião é compartilhada por Sérgio Vale, economista da MB Associados.

“Palocci é a ponte para reformas de mais fôlego no Congresso. Em um governo em que o longo prazo já não existia muito, se a situação do ministro se complicar, esse será um governo apenas de curto prazo”, avalia.

Apesar dessa percepção, os humores em mesas de operação de bancos e administradoras de recursos na última semana pouco refletiram o impacto da crise.
“Os movimentos do mercado aqui foram muito influenciados, na última semana, por notícias de fora”, explica José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

Para os analistas, a menor vulnerabilidade externa do país contribui para diminuir o temor de fuga de recursos por conta da crise política.

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O leitor precisa entender que Folha, Globo, Veja e Estadão, bem como PSDB, DEM e PPS não estão nem aí para o estado da economia. Não dependem dela. Têm governos ricos como o de São Paulo e Minas Gerais para mamar. A única opção foi tentarem jogar o país numa crise econômica. Por isso não pensaram duas vezes.