‘Irmãos Marinho não poupariam nem a mãe, para vender revista’

Crônica

Leitores me pedem que opine sobre a reportagem de capa da revista Época do último fim de semana, em que, através de montagem, exibiu a presidente da República de olhos fechados contra um fundo aveludado e negro como o de um esquife, como se estivesse morta. A montagem fica ainda mais bizarra porque Dilma sorri suavemente.

Um detalhe ainda mais macabro e que muitos talvez não conheçam por não terem tido a morbidez de lerem a reportagem que versava sobre a saúde de Dilma foi notado pelo amigo e repórter da revista Carta Capital Leandro Fortes, que, enquanto folheava a Época, perplexo, chamou-me para ver gráfico em que a presidente teve a imagem “fatiada” como naqueles cartazes de cortes de bois expostos nos açougues.

A montagem psicopata apontava órgãos internos de Dilma com setas, aludindo a supostos problemas que teria aqui ou ali.

Vi aquela barbaridade enquanto conversava com o Leandro no domingo, em Porto Alegbre, quando o encontro dos blogueiros do Rio Grande do Sul já caminhava para o encerramento. Acabei comprando a revista sensacionalista. Precisava analisar aquilo.

Poucas horas depois, ao tomar o vôo para São Paulo, comecei a conversar com alguém que parecia aprovar a reportagem da revista sensacionalista. Fez um comentário e um gracejo ao me ver lendo a Época. Perguntei o que achava daquilo. Respondeu que achara “muito criativa, a idéia”.

Quando disse ao meu interlocutor de que tamanha falta de respeito não se devia a “criatividade”, mas a luta política, discordou da premissa. Sua tese até faz sentido, apesar de que não descarto o jogo político. Afirmou que, para vender revista – ou qualquer outra coisa –, os irmãos Marinho não hesitariam em expor “a própria mãe”.

Conclusão: quanto mais se reclama da baixaria, mais se ajuda a Globo a ganhar dinheiro. Simplesmente porque há muita gente sem caráter, por aí, que se diverte com uma barbaridade como aquela. Ao menos enquanto não for vítima de vilania do mesmo quilate.